Calça curta – Candidato do PSDB à Presidência da República, o mineiro Aécio Neves tem revelado um dos principais traços do seu DNA tucano: ficar em cima do muro. Depois de garantir a sindicalistas que, se eleito, terminará com o fator previdenciário, Aécio mudou o discurso durante entrevista ao telejornal “Bom Dia Brasil”, levada ao ar na manhã desta terça-feira (23).
Sabatinado pelos jornalistas Chico Pinheiro, Miriam Leitão e Ana Paula Araújo, o candidato tucano afirmou que, apesar de ter garantido aos sindicalistas que discutiria uma forma de substituir o fator previdenciário, não assumiu o compromisso de extinguir o mecanismo que reduz o valor das aposentadorias.
“Eu não disse que vou acabar com o fator previdenciário. Eu me reuni com as centrais sindicais, em especial com a Força Sindical, e assumi um compromisso de discutirmos uma alternativa ao longo do tempo ao fator previdenciário”, declarou o tucano.
O fator previdenciário – índice que combina idade do segurado, tempo de contribuição ao INSS e expectativa de vida – reduz o valor da aposentadoria de quem deixa o trabalho mais cedo.
Não se pode esquecer que o fator previdenciário foi lançado durante a era FHC, forma encontrada pelo então presidente para minimizar o sempre crescente déficit da Previdência Social, diante da negativa do Congresso Nacional de aprovar maior tempo de contribuição do trabalhador. O fator previdenciário teve o seu fim vetado, em 2010, pelo então presidente Lula, que ao assim decidir deu as costas aos aposentados e pensionistas.
Aécio reuniu-se com representantes de diversas categorias laborais na última sexta-feira (19), quando prometeu não apenas discutir o fim do fator, mas também a correção da tabela do imposto de renda pela inflação.
O discurso de Aécio sobre o tema é visguento e induz o cidadão a erro, pois sua proposta não é acabar com o fator previdenciário, mas substituí-lo por outra fórmula menos voraz. Na última sexta-feira, no site da campanha do tucano, o título de um texto destacava o compromisso de Aécio com o fim do fator previdenciário. Depois da gravação da entrevista levada ao ar nesta terça-feira pelo “Bom Dia Brasil”, o título do mesmo texto destacava: “Aécio assume compromisso com trabalhadores e discutirá fator previdenciário”.
Na segunda-feira (22), após palestra a empresários, em São Paulo, Fernando Henrique Cardoso disse que a proposta apresentada por Aécio Neves, de acabar com o fator previdenciário, pode ser executada desde que consideradas todas as premissas que o assunto exige. Acreditando que uma eventual gestão tucana fará com que a economia brasileira cresça e torne-se responsável, FHC afirmou que “é possível buscar mecanismos para substituir este esparadrapo [fator previdenciário] para dar mais fôlego à questão da Previdência Social”.
Na manhã desta terça, em Niterói (RJ), o presidenciável tucano voltou a ser questionado sobre o tema e de novo ficou em cima do muro. “Não é acabar com o fator previdenciário sem colocar algo no local, mas é reconhecer que ele impacta fortemente nas aposentadorias. Já existem algumas alternativas, inclusive em discussão no Congresso Nacional. Substituí-lo por algo que impacte menos na renda do aposentado”, disse o candidato.
Há uma enorme diferença entre discutir o fator previdenciário e eliminá-lo. A eliminação representaria um substancial aumento do déficit da Previdência Social, que seria obrigada a pagar as aposentadorias no valor integral, sem as nefastas deduções. É sabido que as contas públicas federais estão a um passo do precipício e qualquer mudança de rumo, no momento, pode provocar um enorme estrago, mas não se pode prometer algo que é impossível de cumprir.
No “Bom Dia Brasil”, ao tentar se esquivar das perguntas sobre a promessa feita aos sindicalistas, Aécio disse que os trabalhadores liderados pela Força Sindical querem a verdade. Declaração estranha se considerado o fato de o próprio candidato omite a verdade.