Escândalo do jato “laranja” que despencou com Eduardo Campos continua ignorado pela Justiça

(Edson Silva - Folhapress)
(Edson Silva – Folhapress)
Silêncio obsequioso – A corrida presidencial caminha para o primeiro round, sem que a Justiça Eleitoral tenha se manifestado sobre o imbróglio que cerca o avião executivo, um Citation 560 XLS, que despencou na cidade de Santos, no litoral paulista, e matou, em 13 de agosto, o então presidencial Eduardo Campos (PSB) e outras seis pessoas que estavam na aeronave.

Muito estranhamente, o assunto sumiu do noticiário, como se a compra de uma aeronave por empresários, supostamente “laranjas”, fosse algo normal. Fora isso, as despesas aeroportuárias do avião que servia à campanha de Eduardo Campos foram pagas por empresas de fachada, algumas localizadas na periferia de Recife.

Tão logo surgiram os primeiros questionamentos sobre a bisonha operação financeira envolvendo o avião fabricado pela norte-americana Cessna, o PSB escalou Beto Albuquerque, candidato a vice na chapa de Marina Silva, para tratar do tema junto à imprensa. A ideia era tirar Marina do olho do furacão, uma vez que de início a ex-ministra cobrou do partido explicações sobre a compra do avião.

O assunto, que no âmbito da opinião pública caiu na vala do esquecimento, continua sendo investigado pelas autoridades, mas é preciso lembrar que policiais federais não descartam a possibilidade de o avião ter sido comprado pela campanha do candidato Eduardo Campos, que beneficiou, enquanto governador de Pernambuco, um empresário que aparece entre os pretensos novos arrendatários da aeronave. A operação teria sido montada para esconder o caixa 2 da campanha de Campos.

João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira, donos dos grupos BR-Par Participação e Bandeirantes Companhia de Pneus, respectivamente, aparecem como os novos “donos” do avião. Eles teriam autorizado Campos a usar o equipamento durante a campanha, sendo que as despesas seriam acertadas ao final do período eleitoral. Contudo, O PSB destacou em nota que a transferência do contrato de leasing não tinha sido concretizada, porque a Cessna Finance não aprovara as garantias oferecidas pelos empresários pernambucanos, que já teriam pagado oito parcelas do arrendamento mercantil da aeronave.

“O Partido Socialista Brasileiro presta esses esclarecimentos para deixar patente que esteve alheio às negociações efetuadas entre os empresários de Pernambuco e a empresa AF de Ribeirão Preto”, finaliza a nota.

No momento que surgiu a dúvida sobre quem seria o responsável de fato pela aeronave, o ucho.info afirmou que bastava levantar em nome de qual empresa estavam sendo faturadas as despesas operacionais do Legacy, de prefixo PR-AFA. A empresa que pagou as tais despesas, nos primeiros meses de campanha eleitoral, funciona em uma casa simples na periferia de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana de Recife. Registrada oficialmente como empresa de vigilância, a Lopes & Galvão Ltda. aparece como pagadora dos serviços de parqueamento e atendimento para a aeronave, prestados pela Líder Táxi Aéreo.

Genivaldo Galvão Lopes e Luciene Lindalva Lopes, donos da empresa, negaram o pagamento das despesas operacionais do jato, sugerindo que a empresa de segurança teria sido usada indevidamente.
Por meio de um advogado, Genivaldo mudou a versão e informou que “pode ter realizado pagamentos a pedido de outras pessoas”. Entretanto, o dono da “Lopes & Galvão” preferiu não identificar as pessoas que teriam ordenado os pagamentos, sob a desculpa de que o fará apenas quando for “intimado por autoridades competentes para prestar esclarecimentos”. Uma bisonha mudança no discurso, se considerado o fato de que logo de início o mesmo Genivaldo deu a entender que sua empresa fora vítima de fraude.

Uma das filhas de Genivaldo, Sylney Lopes, de 29 anos, disse não fazer sentido a empresa do pai bancar despesas operacionais de uma aeronave avaliada em US$ 8,5 milhões (R$ 19 milhões). “Você acha que, se tivéssemos esse dinheiro todo, eu moraria aqui em Tiúma? Longe de tudo, nessa rua…”, afirmou Sylney ao fazer referência ao bairro onde mora com a família, na periferia de São Lourenço da Mata.

Para provar que essa história do avião acidentado está muitíssimo mal contada, uma coincidência surgiu em meio ao pífio enredo de um crime eleitoral. O advogado que, em nome de Genivaldo Galvão Lopes, apresentou nova versão para o caso do pagamento das despesas operacionais do jato é o criminalista Ademar Rigueira, contratado pela viúva de Eduardo Campos, Renata Campos, para acompanhar, a pedido da família, as investigações sobre o acidente que matou o ex-governador de Pernambuco.

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