Olho do furacão – Laudo de perícia criminal encomendado pela Polícia Federal (PF) revela graves indícios de que a empresa Sanko-Sider recebeu por serviços não prestados para o Consórcio CNCC, do Grupo Camargo Corrêa, em obras da Petrobras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba.
Segundo os peritos, a Sanko recebeu R$ 38,7 milhões do CNCC e fez vários repasses às empresas MO Consultoria e GFD Investimentos, do doleiro Alberto Youssef, entre 2010 e 2013, somando R$ 37,7 milhões. “Os números chamam a atenção em razão de as empresas não possuírem relação direta com a natureza dos serviços supostamente prestados”, diz o relatório. O documento também chama a atenção para a existência de uma relação direta entre os pagamentos recebidos pela Sanko e o repasse às empresas de Youssef.
A perícia da Polícia Federal confirmou uma ‘tabelinha’ entre a Sanko Sider e a empreiteira Camargo Correa. Na Repar, os peritos apontam que a Sanko recebeu R$ 3,6 milhões do CNCC mesmo sem comprovação de que a venda de tubulações foi efetivada. A Camargo Corrêa justificou que repassou esse montante à Sanko por serviços prestados que não envolveriam a obra na Repar. Mas documentos apreendidos na Operação Lava-Jato indicam que o pagamento, no mesmo valor e na mesma data, foi contabilizado pela Sanko como serviços prestados na obra da refinaria.
A revista Veja descobriu que 121 parlamentares receberam R$ 29,7 milhões de 18 grupos ligados ao escândalo da MO Consultoria, empresa de fachada de Youssef, utilizada para repassar propinas de empresas fornecedoras da Petrobras a políticos e funcionários que facilitariam a obtenção de contratos com a estatal. Os 121 parlamentares estariam entre os beneficiários do esquema. Ao todo são 96 deputados e 25 senadores.

A senadora Gleisi Hoffmann é a maior beneficiária desse esquema. A candidata do PT ao governo do Paraná recebeu R$ 2,42 milhões. Em segundo lugar vem o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), candidato petista ao governo do Rio de Janeiro, com R$ 2,3 milhões; em terceiro está o senador Humberto Costa (PT-PE), que disputa o governo de Pernambuco pelo PT, com R$ 1,53 milhão. Só esses três receberam para suas campanhas, em 2010, aproximadamente R$ 6,25 milhões de empresas envolvidas no esquema de Youssef.
As ligações de Gleisi com a Camargo Corrêa são antigas. Em 2008, a empreiteira foi a maior doadora da campanha da petista, quando a hoje senadora disputou a prefeitura de Curitiba. De acordo com o site Contas Abertas, “em 2008 a construtora doou apenas R$ 2 milhões para os candidatos nas eleições municipais. Um quarto desse valor foi destinado à candidata à prefeitura da capital paranaense, Curitiba, Gleisi Helena Hoffmann (PT)”.
Ligações de Gleisi Hoffmann e de seu marido, o ministro Paulo Bernardo da Silva (Comunicações), com esquemas na Petrobras já haviam sido denunciados até mesmo pelo deputado federal André Vargas (ex-PT) à revista Veja.
“Vargas insinuou que Bernardo é beneficiário do propinoduto que opera na Petrobras. O ministro, segundo o deputado, seria o intermediário de contratos entre o grupo Schahin, recorrente em escândalos petistas, e a petroleira. Bernardo teria recebido uma corretagem por isso, recolhida e repassada pelo “Beto”. É assim, com intimidade de sócio e amigo, que Vargas trata o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal sob a acusação de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro que teria chegado a 10 bilhões de reais. Parte desse valor, como se revelou nas últimas semanas, são as propinas de negociatas na Petrobras”, destacou a revista.