Muita calma – Em relação à Operação Lava-Jato e seus vários desdobramentos, a imprensa brasileira tem abusado da cautela ao usar o termo “suposto esquema de corrupção”. Esse comportamento comedido, que remete ao temor de eventuais futuros processos, não combina com os tais furos de reportagem e “acessos exclusivos” a isso e aquilo. Ou o jornalista tem acesso aos documentos e conclui, diante de provas, que existia uma ciranda de corrupção na Petrobras, ou deixa de cobrir o tema. Não se pode ficar em cima do muro a partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal referenda o acordo de delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal.
Para conhecimento dos leitores, o acordo de delação premiada só passa para a fase de depoimentos quando a polícia e o Ministério Público estão absolutamente convencidos de que as informações prestadas pelo delator são críveis. De igual modo, o referendo da Justiça ao acordo se dá à sombra da convicção do magistrado em relação ao conteúdo dos depoimentos do delator. Algo novo na Justiça brasileira, mas muito usada em outros países, a delação premiada é um instrumento importante para o esclarecimento de crimes cometidos por quadrilhas e também para um embasamento mais robusto do processo penal, o que não significa que comprometido está o amplo direito de defesa do réu, devidamente contemplado na Constituição de 1988.
De tal modo, não há razão para a imprensa falar em “suposto esquema de corrupção” quando sabe-se que o banditismo corria solto dentro da Petrobras. Ademais, indo ao cerne desta matéria, é extremamente grave a denúncia feita por Paulo Roberto Costa e que incrimina o ex-senador e ex-deputado federal Sérgio Guerra (PSDB-PE), falecido em março deste ano, que presidiu o tucanato em âmbito nacional.
Guerra sempre foi visto pelos políticos e pela imprensa como um parlamentar de reputação ilibada, mas é importante lembrar que em recente matéria o ucho.info afirmou, sem medo de errar, que a avalanche produzida pela Operação Lava-Jato não apenas subiria a rampa do Palácio do Planalto, mas alcançaria membros da oposição. Se Guerra foi a ponta do iceberg que comprometerá a oposição não se sabe, mas isso há de acontecer cedo ou tarde. Entre a acusação de Paulo Roberto Costa, que está devidamente embasada, e a culpa do acusado há uma considerável distância, mas não se pode usar dois pesos e duas medidas para tratar o assunto, dependendo do interesse político-eleitoral da maioria da população. Afinal, diz a sabedoria popular que “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”.
Mesmo diante da necessidade de apuração, a acusação contra Sérgio Guerra é um duro golpe no PSDB e principalmente na campanha de Aécio Neves, que terá de tratar com mais cuidado a avalanche de corrupção que sacudiu a Petrobras, pois a partir de agora, até o dia da eleição, a petista Dilma Rousseff terá pelo menos uma carta na manga para contraditar o candidato tucano. Aécio já disse que defende apuração rigorosa, mas é preciso saber a extensão do imbróglio, pois Sérgio Guerra, segundo o ex-diretor da estatal, teria recebido dinheiro para esvaziar uma CPI criada em 2009 para investigar a Petrobras.
Além de ser falta de imaginação e criatividade, colocar a culpa no morto é um ato de covardia desmedida, estratégia já adotada oficiosamente pelo Partido Progressista, que pretende colocar a culpa no finado José Janene pelo fato de a legenda ter sido arrastada para o esquema de corrupção que jorrava na Petrobras. Só falta aparecer alguém para dizer que hospeda na sua casa uma família de duendes.
Contudo, causa estranheza o fato de apenas esse detalhe da delação de Paulo Roberto Costa ter vazado a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial. Se o vazamento fosse generalizado, colocando na alça de mira da suspeita popular políticos de todos os partidos (ou quase todos), a notícia seria justificável. Pessoas que participaram da Operação Lava-Jato e que acompanharam os depoimentos de Costa garantem que o ex-diretor afirmou que o dinheiro saiu do esquema criminoso para corromper Sérgio Guerra, mas que não sabe se o mesmo recebeu o montante. Algo parecido como “sei que atirei, mas não tenho certeza se matei”.
É importante destacar que na seara política a falsa sensação de poder transforma qualquer abusado em “super-poderoso” e conhecedor de todos os habitantes do planeta, como se sobre esses tivesse ascendência plena e irreversível. Há uma enorme distância entre imaginar que Sérgio Guerra se rendeu à corrupção e ter certeza de que o ex-parlamentar tucano tenha de fato recebido o dinheiro. A regra também vale para qualquer outro acusado de envolvimento no escândalo, começando pelos petistas, os mais encalacrados. Afinal, sem prova todos são inocentes. É o que reza a legislação vigente, que não abre brechas para o achismo.
Tomemos como exemplo a informação que circulou na rede mundial de computadores de que um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o lobista Lula, é sócio do frigorífico Friboi. O filho de Lula pode até ser sócio da empresa, mas sem ao menos um documento que prove essa sociedade o ucho.info prefere a cautela, assim como afirma que até prova em contrário isso não passa de uma enorme mentira, especulação barata, boataria de quinta.
O mesmo ocorreu quando começou a circular na internet a informação de que Lula tivera uma recidiva em relação ao câncer na laringe e que estaria fazendo sessões secretas de quimioterapia durante as madrugadas. O número de sessões quimioterápicas era tão assustador, que a essa altura Lula já teria morrido por intoxicação provocada pelos medicamentos usados nesse tipo de tratamento. Vida longa a Lula, pois o melhor na peleja é que o adversário esteja à altura e em igualdade de condições.
Uma coisa é divergir política e ideologicamente de Lula e sua turba, outra é matar o adversário antes da hora. O absurdo cresceu de tal forma, que até mesmo médicos conhecidos confirmaram a notícia, o que ratifica a tese de que a fofoca é a patologia da informação. Em suma, eleição se vence com propostas e na esteira dos votos dos eleitores. Tirar o PT do poder é mais do que necessário, pois o Brasil sangra sobre a cimitarra da corrupção, mas que isso ocorra sob o manto da democracia e da legalidade.