Pano para manga – Por treze votos a favor e quatro contra, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou o relatório que pede a cassação do mandato do deputado Luiz Argôlo (SD-BA), acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, por participar da ciranda de corrupção que funcionava na Petrobras. O relatório que pede a cassação do deputado por quebra de decoro foi aprovado com base na denúncia de que Argôlo recebeu dinheiro ilícito de Youssef.
Um dos autores da representação contra Argôlo no Conselho de Ética, o deputado federal Rubens Bueno, líder do PPS na Câmara, disse que as provas contidas no parecer de Marcos Rogério (PDT-RR) são “incontestáveis” e comprovam a relação comercial e de tráfico de influência com o doleiro, acusado pelo Ministério Público Federal de ser um dos líderes de esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões.
“É lamentável termos que votar pela cassação de um colega parlamentar, mas as evidências apontadas no relatório são irrefutáveis e pesam contra ele”, afirmou Bueno.
De acordo com o parecer, foram detectados diversos pagamentos efetuados por Alberto Youssef ao deputado Luiz Argôlo em datas bem anteriores ao da suposta avaliação de imóvel em Camaçari. Em depoimento no Conselho de Ética, o parlamentar acusado disse que o dinheiro era produto da venda da propriedade de seu irmão ao doleiro, mas não conseguiu comprovar isso ao colegiado. Também foram detectadas conversas entre Youssef e Argôlo que apontam tráfico de influência, corrupção e lavagem de dinheiro.
O processo de perda de mandato do parlamentar deverá ser submetido à apreciação do plenário da Câmara dos Deputados. No caso de Argôlo recorrer da decisão do Conselho de Ética, o pedido de cassação de mandato terá de passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ir a votação em plenário.
A verdade como ela é
Um dos responsáveis pela denúncia que embasou a Operação Lava-Jato, por meio do editor, o ucho.info não está a contestar as investigações da Polícia Federal, pelo contrário, mas é preciso salientar que Luiz Argôlo transformou-se, ao lado de André Vargas, o que no popular conhece-se como “boi de piranha”. A expressão refere-se à rês adoentada que é entregue às piranhas para que o restante da boiada atravesse o rio com tranquilidade. Isso significa que Argôlo está na fila da cassação apenas porque houve vazamento de informações no âmbito da Lava-Jato.
Como já noticiou este site, há dezenas de parlamentares envolvidos no esquema de corrupção conhecido como Petrolão, sendo que alguns retornaram ao Congresso Nacional com reforço no arcabouço de discursos moralistas. O País não pode compactuar com a impunidade no rastro de crimes de corrupção, mas não se pode aceitar a cassação do mandato de um acusado que ainda não foi julgado e eventualmente condenado pela Justiça.
Não se trata de afirmar que Luiz Argôlo é inocente, mas de defender a isonomia no tratamento dispensado aos envolvidos no maior escândalo de corrupção da história nacional. Há no Conselho de Ética um movimento subterrâneo para preservar alguns dos envolvidos, em especial parlamentares do PMDB, PP e PT.