(*) Carlos Brickmann –
E há quem discuta a sabedoria do voto popular. Imagine se Aécio Neves tivesse ganho a eleição: a primeira medida, como bem advertiu sua adversária Dilma Rousseff, seria elevar os juros. Na hora, o caro leitor pode ter certeza, obrigaria o Banco Central a aumentar os juros básicos de 11% para 11,25%, com aquela desculpa capenga de sempre: combater a inflação. Dilma já dizia que o PSDB planta inflação para colher juros (e, claro, beneficiar os banqueiros).
E, por falar nessa gente, a equipe de Aécio já estaria caçando banqueiros para botar no Governo. A equipe, não ele: como avisou o PT, Aécio é pouco afeito ao trabalho, e já teria viajado de férias com a família, de preferência gastando dinheiro público. Estava em campanha porque quis, para realizar seus sonhos pessoais, mas mesmo assim iria querer descansar por nossa conta, numa praia reservada só para ele e a prole, com a Marinha garantindo seu sossego. Eta, playboy!
Alguém tem de trabalhar, não é mesmo? Sua equipe estaria, nesse período, começando a desovar o saco de maldades. Imagine o que não faria com a tarifa de eletricidade! Dizem que seu plano era elevá-la em 54%, de um golpe só, usando Roraima como cobaia. E, terminado o período de ócio no paraíso tropical estatizado, Aécio ficaria conchavando com um ex-presidente, já que sua preocupação nunca foi atender à população, mas ampliar o período do partido no poder. O ex-presidente é meio idoso, mas de repente – pode ser. E qual será sua equipe? Oras! Já festejou, já descansou, está na mordomia, ainda querem que decida?
Herança maldita
Não se pode esquecer que o povo dele estaria escarafunchando documentos para botar a culpa de tudo no Governo anterior. Seria capaz de dizer, por exemplo, que jamais as contas do Governo Federal estiveram em tão mau estado. Só em setembro, o buraco é de R$ 20,4 bilhões (o pior resultado, antes, tinha sido um pequeno saldo positivo de R$ 3,9 bilhões).
Deve ser coisa de quem detesta o PT, Lula e Dilma – embora sejam dados oficiais, fornecidos pelo Tesouro.
Filosofando
Quem não conhece o passado está condenado a repeti-lo, dizia o pensador George Santayana.
O Brasil conhece o passado: Collor acusou Lula de querer confiscar a poupança, ganhou a eleição e quem a confiscou foi ele. A história acontece como tragédia e se repete como farsa, dizia o pensador Karl Marx. O Brasil vive o pior dos mundos: conhece o passado e o repete; e a farsa é trágica.
Coisa estranha 1
O PSDB, dias depois da eleição, pediu ao TSE uma auditoria especial dos resultados. No pedido, informou que não põe em dúvida a lisura da apuração nem o trabalho da Justiça Eleitoral. “Temos absoluta confiança de que o TSE cumpriu seu papel, garantindo a segurança do processo eleitoral.”
Se não há queixas quanto à apuração nem quanto à lisura do TSE, de que reclamam os tucanos?
Coisa estranha 2
O PSDB não tem queixas. Mas a revista eletrônica GGN, do jornalista Luiz Nassif, próxima ao PT, divulgou análise aparentemente sólida sobre fraudes nas urnas eletrônicas.
Especialistas narram como um hacker violou o segredo das urnas e afirmam que aquela história de que o sistema de comunicações está fora da Internet não passa, isso sim, de história.
Fim de feira
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, PMDB, que promete morar em Miami tão logo entregue o cargo, daqui a dois meses, enviou à Assembléia mensagem solicitando que seja aprovada uma Lei de Transparência. Detalhe: valeria apenas para o próximo Governo.
Transparência boa, só no Governo dos outros.
Sem medo de ser feliz
A Medida Provisória 651, enviada pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso, tem como objetivo dar fôlego ao mercado de capitais. Mas embute alguns contrabandos, ali postos para passar despercebidos: um, por exemplo, isenta as empresas aéreas de Imposto de Renda, CSLL, PIS, Pasep e Cofins sobre passagens compradas com cartões corporativos.
E quem vai pagar a conta? Adivinhou, caro leitor! O IOF de quem compra dólares para viajar passa de 0,38% para 6,38%. E os altos funcionários federais ficam livres para comprar passagens com cartões corporativos (aqueles em que os gastos são mantidos em segredo).
Olho por olho
A Itália impôs ao Brasil uma dura derrota diplomática: recusou-se a extraditar o mensaleiro Henrique Pizzolato, que tem dupla nacionalidade e fugiu do Brasil usando os documentos de um irmão falecido. A decisão é humilhante: informa que Pizzolato não pode ser extraditado porque, no Brasil, as prisões são de péssima qualidade e não têm condições de abrigar convenientemente os condenados.
Há quem diga que a Justiça italiana se vingou da decisão brasileira de não lhe entregar Césare Battisti, condenado por homicídio e salvo por decisão pessoal do presidente Lula.
Se foi isso, erraram: Pizzolato voltar ao Brasil, sabendo o que sabe, com tanta gente querendo ouvi-lo, seria um fardo terrível para o Governo.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.