Tiro ao alvo – Com a clareza surpreendente de sempre, a chanceler alemã Angela Merkel alertou para o perigo de uma ampliação do conflito na Ucrânia. Em discurso sobre política externa nesta segunda-feira (17), em Sydney, na Austrália, ela criticou duramente o presidente russo, Vladimir Putin.
À margem da cúpula do G20, ambos haviam se encontrado em Brisbane para uma conversa a portas fechadas. Referindo-se à presumível derrubada do voo MH17 sobre a Ucrânia, ela disse que a crise no país “não é, certamente, somente uma questão regional, pois esse exemplo mostra “que ela afeta a todos nós”.
Merkel vê riscos especialmente para a Geórgia, a Moldávia e a Sérvia. Seguindo o pensamento antigo, comentou, a Rússia ainda considera a Ucrânia parte de sua esfera de influência e desrespeita o direito internacional.
“Isso coloca em questão a ordem de paz europeia, como um todo, após os horrores de duas guerras mundiais e da Guerra Fria. E isso tem continuação na influência russa para a desestabilização do leste da Ucrânia”, comentou às centenas de ouvintes reunidos no Instituto Lowy de Política Internacional, um dos think tanksmais conceituados na Austrália.
“Não” a uma nova Guerra Fria
A premiê não quer o renascimento dos tempos da Alemanha Oriental, quando nada era possível “sem o consentimento de Moscou”. “Não é apenas um problema da Ucrânia. É também da Moldávia, da Geórgia”, e, se continuar assim, será preciso observar também a Sérvia e os Bálcãs Ocidentais.
Ela acusou Putin de se recusar a contribuir para a resolução de conflitos “com respeito mútuo e meios democráticos e constitucionais”. O chefe de Estado russo estaria apostando no suposto direito do mais forte, ignorando a força da lei, mas a União Europeia fará todos os esforços para chegar a uma solução diplomática com a Rússia.
Ao mesmo tempo, “continuarão a ser decretadas sanções contra a Rússia, enquanto for necessário”, complementou a chefe de governo alemã. Ela conclamou o Ocidente a se unir, argumentando que o maior perigo para a Europa e todo o mundo é “que nos deixemos dividir”. Por isso, é importante que a Europa e os Estados Unidos caminhem juntos. Merkel enfatizou que rejeita categoricamente uma solução da crise da Ucrânia por meios militares.
Anexação da Crimeia
Em entrevista à rede de televisão alemã ARD, Vladimir Putin defendeu sua política para a crise da Ucrânia, ao mesmo tempo criticando, o papel do Ocidente. Segundo o chefe do Kremlin, a anexação da Crimeia pela Federação Russa não foi uma violação do direito internacional. Pelo contrário: soldados russos teriam impedido a atuação das forças ucranianas estacionadas na Crimeia, para que o povo do país pudesse decidir seu futuro através de uma consulta popular, sob proteção militar.
Segundo Putin, a ação russa visou “evitar um derramamento de sangue”. A Crimeia se decidiu pela anexação através de um referendo, prosseguiu, e em questões sobre autodeterminação, um povo não é obrigado a pedir opinião ao governo central.
Putin também advertiu para os efeitos globais das sanções econômicas contra a Rússia, as quais, segundo ele, prejudicariam a economia global. “Acima de tudo, prejudicam as relações entre União Europeia e Rússia”, destacou.
Nesta segunda-feira, os ministros do Exterior da UE se encontram em Bruxelas para debater a estratégia do bloco em relação ao conflito na Ucrânia e decidir sobre outras possíveis sanções. O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, se disse a favor da ampliação das sanções contra os separatistas ucranianos. Não é previsto um endurecimento das sanções econômicas contra a Rússia: a UE quer primeiro tentar novamente convencer Putin a ceder. (Com agências internacionais)