A toca do tigre

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09Investigações do Petrolão, delações premiadas, ameaça de rejeição das contas de campanha da presidente Dilma, tudo isso é desagradável para o Governo. Incomoda, aborrece. Mas não é fatal. Sempre há um jeito de botar a culpa em outro. O Brasil, não esqueçamos, condenou PC Farias por intermediar corrupção, mas não condenou corruptos nem corruptores (deve ser o único caso no mundo em que um intermediário, a julgar pelo resultado dos processos, agia sozinho). Quem pegou penas pesadas no Mensalão foram também os intermediários, não quem abriu a caverna do Tesouro nem quem ficou com a melhor parte.

Há, entretanto, duas armadilhas em que gente poderosa pode ser apanhada: a primeira, a liberação judicial, obtida pelo repórter Thiago Herdy, do Grupo Globo, do sigilo que encobria as despesas do cartão corporativo de Rose Noronha, que chefiou o gabinete da Presidência em São Paulo; a segunda, o processo aberto pelo escritório de advocacia americano Wolf Popper contra a Petrobras, por enganar quem comprou suas ações na Bolsa de Nova York. A empresa é acusada de superfaturar seus ativos, o que mexeu com o preço das ações em Bolsa. Caso condenada nos EUA, a Petrobras fica sujeita a indenizar os acionistas. Sai caro.

Por que o cartão corporativo de Rose é perigoso? Porque o Governo assim o considerou, ao carimbar as despesas como sigilosas. Algum motivo para isso existe. E a ação americana? Por que nos EUA não há acordo secreto possível. Se houver pressões por lá, serão contra a Petrobras, não a favor.

Quem ataca, e como

A ação do escritório americano Wolf Popper, associado ao brasileiro Almeida Law, diz que após as denúncias que levaram à investigação da Petrobras, o valor dos papéis caiu de US$ 19,38, em 5 de setembro de 2014, para US$ 10,50, em 24 de novembro. Segundo o advogado André Almeida, do Almeida Law, há investidores americanos e brasileiros entre seus clientes. A ação é a terceira movida nos EUA a respeito do Petrolão: a SEC, que supervisiona o mercado de capitais, abriu inquérito para apurar se houve violação das leis americanas; e o Departamento de Justiça iniciou investigação criminal para apurar fraudes em contratos.

Novo Governo, novas ideias

Dilma Rousseff ofereceu uma vice-presidência do Banco do Brasil a Anthony Garotinho, do PR fluminense (PR é o partido dirigido por Valdemar Costa Neto, condenado no processo do Mensalão, que ele mesmo denunciou). Dúvida pertinente: alguém conversou com o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a quem caberá conduzir a política econômica, a respeito dessa indicação para cargo tão importante?

Esqueça: ninguém se deu ao trabalho de consultá-lo, não.

Agora vai!

Um velho problema nacional acaba de ser definitivamente resolvido: o Diário Oficial da União desta última terça, 9 de dezembro, publica a Lei nº 13.050, que institui a data de 25 de outubro como Dia Nacional do Macarrão.

Epa, esqueceram!

O 9 de dezembro, em que foi publicada a Lei que institui o Dia Nacional do Macarrão, é também o Dia Nacional de Luta contra a Corrupção. Mas uma leitura atenta do Diário Oficial da União demonstra que essa data foi esquecida.

Muy amigos

Em seu processo de divórcio, o jogador Kaká contratou a advogada Priscilla Correa da Fonseca. A ex-esposa, Caroline Celico, contratou a advogada Gladys Chammas. Ambas estão entre as mais famosas e requisitadas nos processos de separação de casais. Mas tanto Kaká quanto Caroline afirmam que a separação é amigável, sem problemas de pensão nem de divisão de patrimônio.

Então, tá.

Nada mais justo

O jornalista (e advogado) José Andrade de Almeida Castro, 92 anos, pioneiro do rádio e da TV no Brasil, fundador de boa parte dos jornais da rede dos Diários Associados, e que, como diretor do Grande Teatro Tupi, no Rio, comandou atores como Sérgio Brito, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Nathalia Timberg, acaba de ser homenageado com o maior título concedido pela Assembléia Legislativa da Bahia: a Comenda 2 de Julho.

O título foi concedido por unanimidade – o que acontece pela primeira vez na história do Legislativo baiano. Almeida Castro receberá o título em sessão solene. E será preciso combinar direitinho a agenda: aos 92 anos, trabalhando o tempo todo, mantém compromissos diários.

Pira, pirou

Em 1º de janeiro de 2003, o presidente Fernando Henrique Cardoso passou a faixa presidencial a seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De lá para cá, doze anos passados, os petistas continuam botando a culpa de tudo em Fernando Henrique: parece que ele, ao fazer oposição à presidente Dilma Rousseff, se torna responsável por um eventual fracasso da política econômica quarto mandato petista.

Se tudo der certo, com a retomada do desenvolvimento, o mérito é de Dilma; se não der certo, com desemprego e recessão, a culpa é de Fernando Henrique. Difícil de entender? Não: o fundamentalismo ideológico é tão nocivo para o raciocínio quanto o fundamentalismo religioso.

Simples assim.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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