Contra o relógio – Quando a cotação do rublo começou a cair, muitos russos se lançaram sobre todo tipo de artigos de consumo. Na “terça-feira negra” (16), os moscovitas esperaram até duas horas em filas diante de lojas de móveis e eletrodomésticos.
A imprensa nacional descreve uma demanda exagerada por artigos eletrônicos e automóveis. O jornal Wedomosti observa um verdadeiro pânico no mercado automobilístico russo: “Já há escassez agora. Até os carros cujos preços já foram elevados são vendidos”.
Andrei Rodionov, funcionário de uma concessionária, aponta que essa demanda crescente já se faz notar desde novembro, e que o faturamento aumentou em todas as classes de preço.
“Já se pode dizer que é uma fuga do rublo. Os clientes consideram um carro como um investimento”, avalia. Ou seja, trata-se de uma tentativa de proteger as próprias economias da desvalorização decorrente da crise.
Cada um ao seu modo
A gerente de pessoal Evguenia Bolgarova está bem contente por ter adquirido um novo carro ainda em novembro. “Tive grande sorte. Se tivesse adiado a compra, agora eu não teria um automóvel”, diz. Isso porque, segundo ela, as montadoras ou elevam os preços ou suspendem inteiramente as vendas.
Nem todos os russos dispõem de meios para comprar um veículo. Mas a professora de inglês Vera Kastrel também quer salvar o dinheiro que tem poupado da desvalorização. Então, comprou um novo computador, um tablet e uma impressora, além de botas e roupas para o filho.
“Com o salário de docente, não dá para fazer muita coisa. Mas, por sorte, recebi um bônus de pesquisa há pouco tempo”, conta. Antigamente, Vera gostava de investir em viagens pela Europa, mas agora não terá mais como financiar esse luxo. “Isso é triste. Mas eu vou simplesmente viajar mais dentro da Rússia”, diz.
Consumismo de fim de ano?
Anton Panteleyev, assessor de imprensa da cadeia de lojas M.video, a maior fornecedora de eletrônicos de entretenimento do país, apela para que não se incite o pânico. “De fato, observa-se atualmente uma verdadeira invasão da clientela. Mas isso não é muito fora do comum. Logo vai ser Ano Novo, e tradicionalmente as pessoas compram muito nessa época.”
Ele não vê motivo para nervosismo. “Nossos preços não vão subir até o fim de janeiro”, assegura. Como planejado, os contratos de compra com os fabricantes, também estrangeiros, só serão reavaliados no primeiro trimestre do próximo ano, e, então, Anton não descarta uma elevação dos preços de até 20%.
“Mas uma grande parte dos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos é fabricada na Rússia. Os televisores que vendemos são 75% produzidos por firmas nacionais. Essas mercadorias só vão encarecer ligeiramente”, diz.
Alexandr Gukov, gerente de uma firma farmacêutica, se recusa a correr para as lojas. “Nessas situações, as pessoas compram coisas de que nem precisam, por pura ansiedade”, diz. Suas preocupações são bem outras: ele recebe seu salário em rublos, porém, tem que pagar em euros os estudos dos dois filhos na Europa. “Nossas reservas em euros só são suficientes para mais alguns meses”, queixa-se.
Medo de um retorno à época soviética ou da guerra
Já a pensionista Ludmila Sergueieva nunca esteve no exterior e não precisa de moeda estrangeira. “Antes, numa situação destas, eu teria saído correndo para comprar um casaco de pele bem caro, ou uma geladeira nova. Hoje, não posso mais fazer isso: minha aposentadoria só basta para o estritamente necessário.”
Ela está apreensiva com o encarecimento dos gêneros alimentícios e das despesas do condomínio. “Não quero ter que me alimentar de migalhas de pão, como na guerra, ou que armazenar cereais e conservas, como na época soviética.”
O fotógrafo Valery Pakhomov compreende a pressa de seus compatriotas para adquirir bens pelos preços antigos, o que considera “uma boa chance de preservar o valor das economias”. Em meados do ano, ele próprio comprou uma nova máquina fotográfica. Atualmente, seria impossível financiá-la.
“Na época, a câmera custava 150 mil rublos. Hoje, custa 250 mil. Não me resta nada além de trocar minhas poupanças por dólares e torcer para que venham tempos melhores”, diz. (Deutsche Welle)