Papo furado – Ao discursar na cerimônia de posse, que marcou a estreia de seu segundo mandato, Dilma Vana Rousseff deu ênfase à questão do ajuste fiscal, assunto que não ficou claro e gerou desconfiança no mercado financeiro e entre investidores. A presidente afirmou que fará um ajuste fiscal para retomar o crescimento da economia, sem que isso comprometa os diretos trabalhistas e previdenciários.
A fala de Dilma é desconexa, pois dias antes ela mesma decidiu dificultar a concessão de alguns benefícios trabalhistas, sinal de que a equipe econômica do novo governo começa a interferir nas decisões da presidente. O que não significa que a promessa será de fato cumprida. Durante a recente campanha eleitoral, Dilma usou a expressão “nem que a vaca tussa” para garantir que os direitos trabalhistas não sofreriam qualquer mudança.
Depois de quatro anos de seguidos equívocos na política econômica do País, assunto que virou piada no mercado global, Dilma acena com mudanças, não sem antes mostrar que seu primeiro governo foi um enorme fiasco. Cenário que deve se repetir no segundo mandato, uma vez que não será com passes de mágica que a atual crise que chacoalha o País será solucionada.
Em uma equipe com 39 ministros, a grande maioria indicada no rastro de conchavos políticos, apenas os nomes merecem destaque: Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento). Contudo, é preciso saber até quando os titulares das duas mais importantes pastas do novo governo petista suportarão as sandices palacianas, que obrigatoriamente passam pela vala da ideologia. Como sabem os leitores, Dilma é pessoa de difícil convívio, dona de comportamento truculento e senhora da última palavra, principalmente em questões econômicas. Por conta disso, há quem já começa a chamar o ministro da Fazenda de “Joaquim Levy, o breve”.
A ideia da equipe econômica é reduzir gastos, aumentar receitas e otimizar investimentos. Reduzir gastos em um governo escandalosamente aparelhado é algo impossível, mas se isso acontecer a presidente terá problemas não apenas com a base aliada, mas com o Partido dos Trabalhadores, que ao longo da última década indicou mais de dois terços dos 45 mil cargos de confiança existentes na estrutura do governo federal.
Aumentar receitas significa majorar a já proibitiva carga tributária, o que deve comprometer o consumo das famílias, cada vez mais endividadas. No momento em que o aumento de impostos chegar aos preços de produtos e serviços, o consumo diminuirá de forma automática, provocando queda na arrecadação. Esse quadro refletirá não apenas na estrutura federal, mas também nos estados e municípios, que dependem dos repasses de recursos advindos da arrecadação tributária, previstos no Fundo de Participação dos Estados e no Fundo de Participação dos Municípios.
Com isso, os investimentos do governo federal serão comprometidos, uma vez que os cofres do Tesouro ficarão mais magros. Isso significa que a crise atual deve se prolongar por mais alguns anos, até que alguma medida radical seja tomada para colocar a economia nos trilhos. Como o PT tem um projeto de poder, medidas impopulares não serão tomadas para não comprometer os planos do partido que ao longo dos últimos anos exibiu sua inconteste vocação para o banditismo político.