Alta voltagem – O jornal satírico francês Charlie Hebdo, cuja redação foi atacada nesta quarta-feira (7) por dois homens armados que mataram 12 pessoas, tem uma história cheia de polêmicas desde a sua criação em 1970, como sucessor do jornal “Hara-Kiri”. O Charlie Hebdo conservou o tom satírico do predecessor e continuou a criticar os poderes políticos e religiosos, usando caricaturas mordazes, crônicas e reportagens investigativas. François Cavanna (1923-2014), um dos fundadores do veículo, dizia que “o jornal não toleraria obstáculos a sua insolência”.
Devido a problemas financeiros, o Charlie Hebdo deixou de circular em dezembro de 1981 para ser relançado apenas em 1992, unindo chargistas veteranos e uma nova geração – que incluía Tignous e Charb, dois dos jornalistas mortos no ataque desta quarta-feira. O partido francês Frente Nacional, de extrema direita, e todos os extremistas se tornaram os alvos favoritos do jornal. Devido às críticas irreverentes, o Charlie Hebdo foi processado diversas vezes na Justiça, mas era quase sempre absolvido, como em abril de 2010, em um processo movido por uma associação de extrema direita contra a edição “Spécial pape” (especial Papa).
Caricaturas de Maomé
Mas é em 2006 que estoura o maior escândalo do jornal, com a publicação de caricaturas do profeta Maomé, que já haviam sido publicadas pelo jornal dinamarquês “Jyllands-Posten”, em 2005, e que provocaram uma grande onda de violência no mundo muçulmano. Processado por diversos grupos, cujos maiores representantes foram a Grande Mesquita de Paris e a União de Organizações Islâmicas da França, o jornal foi absolvido. Para a corte, as caricaturas não representavam uma “injúria” contra os muçulmanos, mas uma crítica aos terroristas.
Em 2009, o jornal comemorou a sua 900ª edição com o novo título “Charlie 3” (terceira geração) e uma nova equipe, com Charb, morto no atentado, como diretor de redação. “Nos perguntamos o que temos que fazer para não indignar as pessoas”, afirmou ele, antes do lançamento do número “Charia Hebdo” com “Maomé como redator chefe”, em 2011. A edição provocou a ira de grupos islâmicos e a sede do jornal foi alvo de um incêndio – com o lançamento de um coquetel molotov – sem vítimas.
Os outros dois jornalistas mortos no atentado foram Georges Wolinski, 80 anos, chargista mítico para toda uma geração, e Cabu, 76 anos, criador do personagem Grand Duduche. (Com RFI)