Velhos conhecidos – Alvo de duras críticas na esteira das revelações de Edward Snowden, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) voltou a ser considerada como órgão indispensável no combate ao terrorismo. A defesa da NSA é feita por especialistas norte-americanos que, após o atentado terrorista ao jornal parisiense Charlie Hebdo, na última semana, retomaram as apostas na interação dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Europa.
Coube aos espiões dos EUA informar aos colegas franceses que os irmãos Chérif e Said Kouachi, responsáveis pelo ataque ao jornal, haviam recebido treinamento militar na célula da Al Qaeda que opera a partir Iêmen. “Como as comunicações se expandiram de maneira dramática nos últimos anos, a maioria da supervisão é feita por inteligência eletrônica e quem sabe fazer isso é a NSA”, afirmou Daniel Byman, especialista da Brookings Institution em contraterrorismo e segurança no Oriente Médio.
A cooperação entre os serviços de inteligência europeus e norte-americano será importante para reduzir os custos decorrentes da necessidade cada vez maior de monitorar centenas de cidadãos que se alistam como combatentes na Síria e no Iraque e voltam a seus países, ressaltou Daniel Benjamin, responsável pela área de contraterrorismo do Departamento de Estado entre os anos de 2009 e 2012.
Aproximadamente 3 mil cidadãos europeus se alistaram como jihadistas na Síria e no Iraque. Cerca de metade deles voltou a seus países de origem, o que impõe às autoridades a difícil missão de decidir quais serão monitorados e de que forma. Os irmãos Kouachi, por exemplo, saíram da lista de pessoas sob supervisão poucos meses antes do ataque em Paris, mesmo depois das informações repassadas pela NSA.
Durante evento sobre combatentes estrangeiros realizado na segunda-feira (12) na Brookings Institution, o especialista Daniel Benjamin destacou que a ameaça maior não está nos cidadãos que deixam seus países em direção à Síria e ao Iraque, onde opera o Estado Islâmico, mas naqueles que permanecem na terra natal e cometem atos individuais para mostrar lealdade à jihad internacional. São os chamados lobos solitários, que há algum tempo passaram a fazer parte do novo modus operandi dos terroristas que usam o Islã como pretexto para seus crimes.
Na tentativa de definir iniciativas globais que inibam a cooptação de jovens por grupos terroristas, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, por exemplo, a Casa Branca marcou uma cúpula internacional sobre prevenção do extremismo violento, que será realizada em Washington em 18 de fevereiro.
Coautor de estudo sobre a ameaça de combatentes estrangeiros divulgado na Brookings Institution, Jeremy Shapiro afirmou que o risco não deve ser exagerado. Segundo ele, os governos contam com instrumentos para limitar a ação desses indivíduos, cujo preparo para cometer atos terroristas é muito menor do que se supõe.
Na opinião de Benjamin, os recentes atentados cometidos na capital francesa mostram uma mudança de tática dos terroristas, com redução do uso de bombas em atentados de grande escala e a preferência por ações mais limitadas, com armas de fogo. Além de ter um custo muito reduzido, esse tipo de ação terrorista é mais difícil de ser monitorada pelas autoridades dos países escolhidos como alvo.