Fogo cruzado – Líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR) ingressou, nesta terça-feira (27), com representação na Procuradoria Geral da República (PGR) solicitando a abertura de investigação sobre a denúncia de empréstimos suspeitos feitos pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) à Cervejaria Itaipava, maior doadora de campanha da presidente Dilma Rousseff.
A representação protocolada na PGR tem como base reportagem publicada na mais recente edição da revista Época, que revela como o empresário Walter Faria, dono da cervejaria Itaipava, conseguiu empréstimo em tempo recorde junto ao Banco do Nordeste para a construção de duas fábricas na região. Mesmo devendo R$ 400 milhões à Receita Federal em impostos atrasados e multas, além de possuir longa ficha criminal, Faria teria obtido mais de R$ 800 milhões do BNB para a construção das duas unidades da cervejaria.
Para Rubens Bueno, os fatos narrados pela revista levantam a suspeita de crime de corrupção ativa e passiva na transação considerada atípica no mercado financeiro, já que houve, inclusive, dispensa de apresentação de carta-fiança para garantir vantagens à cervejaria que pertence ao Grupo Petrópolis.
Ainda de acordo com a publicação, os créditos teriam sido supostamente liberados com a intermediação política de integrantes do PT. As tratativas entre o BNB e a Itaipava aconteceram em setembro de 2014, período em que o Grupo Petrópolis fez milionária doação à campanha da presidente Dilma Rousseff.
“Este fato é gravíssimo. Tudo leva a crer que houve uma negociação fraudulenta em troca de vantagens financeiras para a campanha de Dilma. O Ministério Público precisa ser investigar essa denúncia com profundidade. É inadmissível que uma empresa burle critérios e normas de um banco público para obter financiamentos em um curto período de tempo”, criticou o parlamentar.
A reportagem revelou que no dia 29 de setembro de 2014, “apenas doze dias após o Grupo Petrópolis obter o impossível no BNB”, o empresário Walter Faria teria depositado R$ 5 milhões na conta da campanha de Dilma. No dia 3 de outubro, Faria doou mais R$ 12,5 milhões, totalizando R$ 17, 5 milhões.
Na ação, Rubens Bueno disse que os fatos narrados por Época apontam para a necessidade de que seja instaurado inquérito para investigar a denúncia. “A apuração de todos esses fatos pelo Ministério Público deverá explicar por que este senhor (Walter Faria) é o maior doador da campanha da presidente Dilma”, afirmou o parlamentar.
Briga com bancos
Em meados de 2013, os bancos HSBC, Credit Suisse e ING recorreram à Justiça brasileira para cobrar 530 milhões de reais da Cervejaria Petrópolis, dona das marcas Itaipava, Crystal e Petra. Os processos nada têm a ver com cerveja, mas as instituições financeiras acusam a empresa de ser dona oculta de uma processadora de soja chamada Imcopa, que deu um calote bilionário na praça. Como a Imcopa tornou-se inadimplente, os bancos queriam que a Petrópolis honrasse as dívidas.
Líder na produção de derivados de soja não transgênica no País, a Imcopa devia, à época, quase 1 bilhão de reais e há muito enfrentava problemas com credores. A empresa renegociou as dívidas em 2009, mas não cumpriu os acordos. Em janeiro de 2013, pediu recuperação judicial.
Os bancos alegaram nas ações judiciais que foram enganados e que a Petrópolis apropriou-se da Imcopa por baixo do pano – tudo tramado para ficar com as receitas bilionárias do negócio, sem ter de arcar com as dívidas. Na Justiça, os bancos pediram o reconhecimento da situação, para assim cobrar a cervejaria. O HSBC cobrava 380 milhões de reais; o Credit Suisse, 90 milhões de reais; e o ING, 50 milhões de reais.
Ligações com Marcos Valério
Condenado à prisão na Ação Penal 470 (Mensalão do PT, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou à Polícia Federal, após ser preso em outubro de 2008 no rastro de outra investigação, que prestava consultoria empresarial a Walter Faria, dono da Cervejaria Petrópolis, e que recebia os honorários em dinheiro vivo.
A versão apresentada por Marcos Valério contrariou a nota oficial divulgada na ocasião dos fatos pela empresa, que negou ter “qualquer tipo de contrato” com o então caixa do Mensalão do PT. Na sequência, a cervejaria informou que o contrato era verbal e que não houve pagamento de salário, no máximo ressarcimento de despesas.
Marcos Valério e o dono da Itaipava, que agora está envolvido em novo escândalo, foram alvo de investigação do Ministério Público Federal em São Paulo por suposta corrupção, formação de quadrilha e denunciação caluniosa.
À época, o publicitário mineiro foi indiciado pelos três crimes. O indiciamento é a convicção da PF de que reuniu indícios suficientes contra um investigado. A prisão de Walter Faria foi rechaçada pela Justiça por falta de provas.
Para o Ministério Público Federal, os dois agiram juntos para prejudicar dois fiscais da Fazenda paulista que autuaram a empresa Praiamar, do grupo Petrópolis, em R$ 104,5 milhões.