Cunha é o aliado incômodo no caminho do Planalto, que deve retaliar os traidores de Chinaglia

(Ueslei Marcelino - Reuters)
(Ueslei Marcelino – Reuters)
Resultado indigesto – A derrota do Palácio do Planalto na eleição da Câmara dos Deputados é muito maior do que imagina o governo e vai além do resultado da escolha para a presidência da Casa legislativa. Considerado um aliado incômodo pelo núcleo duro do governo de Dilma Rousseff, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ) é mais do que um mero catalisador de votos. Cunha é um líder dos insatisfeitos com o Planalto.

Com 267 votos, dez a mais que o mínimo necessário, o que decidiu a disputa em primeiro turno, Eduardo Cunha poderá contar com outros parlamentares, além dos que embarcaram em sua campanha, em sua cruzada contra a truculência do governo do PT no Legislativo federal. É o caso dos cem parlamentares que votaram em Júlio Delgado (PSB-MG), que junto com os eleitores de Cunha formam um bloco de 367 opositores. Isso significa mais de dois terços da Câmara dos Deputados, número suficiente para impor ao Palácio do Planalto alguns dissabores.

O Palácio do Planalto trabalhava com a expectativa de que o petista Arlindo Chinaglia conseguisse 180 votos, mas a diferença de 44 votos, que garantiu a vitória de Cunha, é a nova preocupação do governo de Dilma Rousseff. Isso porque os palacianos, que fazem contas nas coxias do poder, já identificaram os traidores do candidato do PT à presidência da Câmara.

Entre as principais matérias que serão incensadas pelo novo presidente, merece destaque o Orçamento Impositivo, que criará uma frente de conflito com a equipe econômica do novo governo petista, que na tentativa de reordenar a economia nacional busca freneticamente aumentar receitas e reduzir despesas. Lembrando que o Palácio do Planalto considera o Orçamento Impositivo uma ameaça ao plano econômico liderado pelo ministro Joaquim Levy, da Fazenda.

O Orçamento Impositivo foi aprovado por senadores e deputados em votação relâmpago, no dia 17 de dezembro de 2014, no rastro da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015, e deu aos parlamentares o direito a 1,2% da receita corrente líquida (RCL) da União, que será transformado em emendas. Isso corresponde a R$ 9,7 bilhões na proposta orçamentária. As emendas destinam recursos públicos para obras e serviços em municípios indicados pelos parlamentares. Para um governo que levou o País ao despenhadeiro da crise e que agora tenta arrecadar R$ 20 bilhões por ano no vácuo do “pacote de maldades” anunciado por Levy, o Orçamento Impositivo é mais um fantasma a rondar o Palácio do Planalto.

Outro tema que assusta os palacianos é a possibilidade do deputado federal Eduardo Cunha abrir caminho para um processo de impeachment da presidente da República. Como mencionado pelo UCHO.INFO em diversas ocasiões, por enquanto não há fato determinado (com provas) para a propositura de um processo de impeachment, mas isso poderá ocorrer a qualquer momento nas reticências da Operação Lava-Jato, que desmontou o esquema de corrupção que funcionava em diretorias da Petrobras com a explícita anuência do Palácio do Planalto (leia-se Lula e Dilma).

Cunha é ambicioso politicamente e com boa dose de certeza deverá adotar medidas que lhe garantam apoio popular e viabilizem seus projetos futuros. Vale lembrar que os parlamentares que tomaram posse neste domingo, 1º de fevereiro, já começam a pensar nas eleições de 2016 e 2018, quando o novo presidente da Câmara dos Deputados poderá concorrer a um cargo no Executivo.

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