Jogo duro – A Câmara dos Deputados elegeu o peemedebista Eduardo Cunha (RJ) como presidente da Casa legislativa. Terceiro segundo na linha sucessória da presidente Dilma Rousseff – o primeiro é o vice-presidente Michel Teme – Cunha fez intensa campanha ao longo das últimas semanas, tendo com bandeira a independência em relação ao Poder Executivo.
Preocupados com a possível vitória de Cunha, os principais assessores palacianos trabalharam intensamente nos bastidores para evitar problemas nos próximos dois anos na Câmara dos Deputados. Isso porque o novo presidente da Casa é difícil quando negocia e profundo conhecimento do Regimento Interno. O que dificulta sobremaneira a ação do governo, que desde 2003 se acostumou com o passei do rolo compressor no Parlamento.
Com a presença dos 513 deputados federais, Eduardo Cunha venceu a eleição em primeiro turno com 267 votos, dez a mais que o mínimo necessário, já que o Regimento exige, nesse caso, maioria simples, ou seja, 257 votos (50% mais um). O petista Arlindo Chinaglia (SP), que contou com o jogo covarde e a intimidação do governo da “companheira” Dilma Rousseff, recebeu 136 votos. Relator dos processos de cassação de José Dirceu, condenado no Mensalão do PT, e André Vargas, flagrado em relações nada ortodoxas com Alberto Youssef, o doleiro da Operação Lava-Jato, o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) conseguiu 100 votos. Deputado pelo PSOL do Rio de Janeiro, Chico Alencar recebeu apenas oito votos.
Esse resultado mostra de forma clara que, a partir de segunda-feira (2), o Palácio do Planalto terá sérias dificuldades para aprovar as matérias do seu interesse. Fora isso, Dilma terá de negociar de forma árdua e intensa para evitar que prospere na Câmara dos Deputados um pedido de impeachment, que por enquanto não tem fato determinado, algo que poderá surgir a qualquer momento no rastro do Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história da humanidade.
Quando Eduardo Cunha foi eleito líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o UCHO.INFO afirmou que Dilma viveria meses de extrema dificuldade na Casa legislativa, como de fato aconteceu. Experiente com parlamentar e com longa trajetória política, Cunha é mais temido do que respeitado. Mesmo assim, ter alguém com sua essência na contramão era tudo o que a cúpula do governo do PT menos desejava.
A situação da presidente da República torna-se mais grave porque os presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados são do PMDB, partido que desde a chegada do PT ao poder central tem imposto ao governo a condição de refém. É fato que Renan Calheiros, que pela quarta vez comanda o Senado, é mais adepto da negociação nos bastidores, o que não significa frouxidão na hora de cobrar. Em relação a Eduardo Cunha a situação é diferente, porque o deputado fluminense entrou em rota de ascensão nos últimos anos e dificilmente interromperá esse movimento. Sem contar que o novo presidente da Câmara conta com uma equipe preparada e pronta para a briga.
Depois do período momesco, que termina no próximo dia 18 de fevereiro, quarta-feira de Cinzas, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, poderá apresentara qualquer momento, como prometido, denúncia contra os políticos envolvidos no escândalo do Petrolão, o que deve sacudir o Parlamento federal e a Esplanada dos Ministérios. No caso da Câmara dos Deputados, muitos parlamentares serão denunciados, o que exigirá da Casa a abertura de processos por quebra de decoro, apesar de que os acusados alegarão que o eventual crime teria ocorrido na legislatura anterior. Prosperando os processos por quebra de decoro parlamentar, com direito a cassações, parte da Mesa Diretora da Câmara pode cair.
Confira abaixo os demais eleitos para a Mesa Diretor da Câmara dos Deputados:
1ª Vice-Presidência: Waldir Maranhão (PP-MA) – 428 votos
2ª Vice-Presidência: Giacobo (PR-PR) – 322 votos
1ª Secretaria: Beto Mansur (PRB-SP) – 436 votos
2ª Secretaria: Felipe Bornier (PSD-RJ) – 437 votos
3ª Secretaria: Mara Gabrilli (PSDB-SP) – 456 votos
4ª secretaria: Alex Canziani (PTB-PR) – 457 votos
1ª suplência: Mandetta (DEM-MS) – 424 votos
2ª suplência: Gilberto Nascimento (PSC-SP) – 382 votos
3ª suplência: Luiza Erundina (PSB-SP) – 372 votos
4ª suplência: Ricardo Izar (PSD-SP) – 187 votos