(*) Carlos Brickmann –
Diz a Bíblia que há tempo de amar e tempo de odiar; há tempo de guerra e tempo de paz. Dizem os mestres que sábio é quem distingue um tempo do outro.
Há motivos para o impeachment de Dilma? De acordo com um jurista de primeira linha, Ives Gandra Martins, tecnicamente há. Dilma está enfraquecida, e o início de seu segundo mandato, após dura vitória, parece mais o final de um Governo derrotado nas urnas. As áreas em que se proclamou especialista, Petróleo e Eletricidade, são as mais problemáticas de sua administração. E tudo pode piorar, caso as investigações do Petrolão atinjam pessoas de sua confiança.
Mas não é tempo de impeachment. O impeachment precisa ter base jurídica, mas é uma decisão política. Talvez haja condições políticas no Congresso para impedir a presidente; mas essas condições não existem nas ruas. Dilma obteve, há menos de quatro meses, a aprovação de pouco mais da metade do eleitorado. Por mais que tenha sofrido desgaste, há ainda muita gente que a prefere a seus adversários (que, a propósito, também se desgastaram). O partido da presidente tem uma estrutura de mobilização ainda eficiente, não lhe faltam recursos materiais, e se colocará como guardião da legalidade. Impeachment, neste momento, é lançar o país no tempo de guerra, no tempo de odiar, no tempo de matar.
O mandato de Dilma vai até 2018. Que o eleitor decida se mantém o PT no poder. Que o tempo se escoe. Se, em algum momento, Dilma não tiver condições políticas de governar, que se pense em impeachment. Há que esperar acontecer.
Livre pensar…
Não, este colunista não é petista, nem peessedebista: é jornalista, ponto. Mas, caro leitor antipetista, raciocinemos juntos. Se Dilma sofrer impeachment, seu sucessor será o vice Michel Temer, do PMDB. Ou, caso o afastamento seja causado por irregularidades na chapa Dilma-Temer, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (e, se Cunha não puder assumir, por Renan Calheiros). O país que afastou Collor ficaria feliz com seu antigo aliado Renan na Presidência?
Mas imaginemos que ficasse. Os ferimentos causados pela batalha do impeachment inviabilizariam o Governo seguinte. E tanto Dilma quanto o PT sairiam com a aura das vítimas, prontos para voltar. É melhor deixar o tempo correr.
…é só pensar
Entretanto, defender o impeachment é absolutamente legítimo e nada tem de golpismo. Se golpismo fosse, golpistas seriam todos os petistas que, com Lula e José Dirceu à frente, queriam depor Fernando Henrique logo após sua reeleição.
Defender o impeachment pode ser um erro político, mas golpismo não é.
O senhor da razão
O bom jornalista Wilson Moherdaui lembra que o impeachment é desnecessário, em caso de corrupção eleitoral. A lei federal nº 9.504, de 30/9/97, parágrafo 2, artigo 30-A, diz: “Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado”.
Como? Seguindo a Lei Complementar nº 64, de 18/5/90, artigo 22.
Que fase!
Às vezes, política é como futebol. Conforme a fase, a bola bate na canela e entra; ou não entra de jeito nenhum. O Governo brasileiro precisava pedir a extradição de Henrique Pizzolato, ex-gerente do Marketing do Banco do Brasil, aqui condenado a pouco menos de 13 anos de prisão e que fugiu para a Itália com documentos falsos em nome de seu falecido irmão.
Precisava, mas não queria: a última coisa de que o Governo precisava era de mais um cavalheiro bem informado que eventualmente possa contar coisas ainda secretas. Pois não é que ganhou a parada, e a Justiça italiana, em ultima instância, decidiu pela extradição? Pizzolato (e o Governo brasileiro) ainda têm uma chance: o ministro da Justiça da Itália pode legalmente decidir que não confirmará a ordem de extradição.
O Maníaco da Brocha
Alguém está interessado em saber por que caem tantas árvores em São Paulo? Um engenheiro conceituado verificou que uma árvore na rua Costa Carvalho, 195, Pinheiros, SP, está inclinadíssima, com as raízes quebrando a calçada. Vai cair. Vai arrastar os fios de alta tensão, os fios da iluminação pública, os transformadores e os cabos de telefonia e Internet. A árvore foi fotografada e as fotos enviadas ao subprefeito de Pinheiros, Ângelo Salvador Filardo Jr.
E? Claro: nada! Se não dá para resolver jogando tinta no chão, ou pintando o retrato de Hugo Chávez em monumentos tombados, a Prefeitura petista paulistana não resolve. Alô, Fernando Haddad, Prefeito Suvinil! Que tal ouvir o que dizem os cidadãos?
Mas é Carnaval
E, para que ninguém diga que esta coluna esqueceu a Grande Festa, a Beija-Flor de Nilópolis, tantas vezes campeã do Carnaval carioca, desfila neste ano com patrocínio de Teodoro Obiang, há 36 anos ditador da Guiné Equatorial; e, segundo a revista Forbes, o oitavo governante mais rico do mundo. Seu país não vai tão bem: numa lista de 187, ocupa o 136º lugar em Índice de Desenvolvimento Humano.
Obiang paga R$ 10 milhões para a Beija-Flor mostrar como, embora seja uma ditadura, embora a população viva mal, o país (e ele) são maravilhosos.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.