Corda bamba – Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil, foi escalado pela presidente Dilma Rousseff para transmitir sua profunda insatisfação com declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que ela nem sempre age da forma mais eficaz. De acordo com pessoas próximas à presidente, Dilma ficou irritada e indignada ao tomar conhecimento da declaração de Levy, feita na terça-feira passada (24), e divulgada no último sábado (28).
Mercadante, então, telefonou a Levy ainda no sábado, após tomar conhecimento da declaração feita durante palestra para ex-alunos e professores da Universidade de Chicago. “Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil… Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno”, disse ele, em inglês.
Segundo o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, esse tipo de discurso vindo do principal ministro da área econômica e responsável por sanear as contas públicas do País dificulta as negociações em torno do ajuste fiscal. As duas casas ainda acreditam que o tema deve interferir nas discussões em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, marcada para terça-feira (31), quando o ministro pretende detalhar seu plano de corte de gastos e a política de retomada do crescimento.
Após sucessivas derrotas sofridas pelo governo no Congresso, um dos principais objetivos do Planalto é que o Senado retire de pauta projeto que obriga a presidente a regulamentar a troca dos indexadores da dívida de Estados e municípios com a União, reduzindo o valor devido. Isso depende de a audiência de Levy na CAE não ser contaminada pelas suas recentes declarações. “Ele (Levy) tem que tomar mais cuidado. É evidente que é ruim e dá munição para quem quer. A presidente já está sendo muito atacada”, afirmou um ministro próximo à presidente.
A avaliação dos aliados é que, se o próprio ministro da Fazenda questiona a eficiência da presidente da República, é difícil convencer os congressistas a aderirem a um pacote de medidas impopulares proposto pela petista. Para o Palácio do Planalto e aliados, Levy, mais do que ninguém, precisa defender o governo em um contexto em que o ajuste enfrenta resistência da oposição e de partidos da base, entre eles o próprio PT.
Apesar do clima ruim causado pelas declarações, o governo trabalhará para minimizar o episódio. O que se espera é que a presidente se posicione na primeira oportunidade em que for questionada por jornalistas, sem, no entanto, reprimi-lo severamente, já que isso fragilizaria ainda mais o governo nas negociações.
A polêmica deve fermentar sobremaneira com a ajuda da oposição e do próprio PT no Congresso. “Do ponto de vista político, a fala do ministro é temerária: ironiza a presidente em público. Isso corrói ainda mais a credibilidade do governo a que pertence”, afirmou o senador José Serra (PSDB-SP), suplente da CAE.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), também integrante da CAE, disse que perdeu o cargo de ministro da Educação no primeiro mandato de Lula por ter criticado o governo de forma mais branda do que fez Levy. O senador ocupou o cargo entre 2003 e 2004 e foi demitido por telefone. “Fui dizer coisas desse tipo sobre o Lula, sem nem citar o nome dele, e acabei caindo. Lembro da frase que eu disse: não precisa do “Fome Zero”, basta ampliar a Bolsa Família. Essas coisas é perigoso para um ministro dizer.”
Já para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), “não é recomendado a um subordinado esse grau de liberdade”. “Espera-se dele um discurso mais uníssono ao da presidente.” O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), disse que “ele quis dizer que a presidente é bem intencionada e, às vezes, as coisas não dão certo ou é difícil.
O ministro da Fazenda não quis se pronunciar sobre a polêmica, mas divulgou nota afirmando que sua declaração foi mal interpretada. (Por Danielle Cabral Távora)