Je suis Geni

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09Si hay gobierno, soy contra. Si no hay gobierno (e esta é a situação do país), soy contra. O caro leitor, seja governista ou oposicionista, pode começar a me jogar pedras (só isso, por favor). Chapa branca, jamais, mesmo que seja vermelha. E coxinha, prefiro aquelas feitas em casa, crocantes e temperadinhas.

A grande manifestação contra o Governo está às portas. OK: manifestação pacífica até Dilma disse que aceita. E o dia seguinte? Marchar por marchar, depois descansar? Ou a oposição está preparada para negociar mudanças substanciais no Governo (e o Governo para aceitá-las) ou não vai ocorrer nada de bom. Pode haver golpe. Mas será melhor ter Renan, Cunha ou Temer no vasto trono de Dilma? Golpe militar, como em 64? E quem tem ascendência sobre a tropa?

A manifestação, que tem tudo para dar certo, é mais do que contra Dilma: é contra tudo-isso-que-está-aí. Contra o Congresso que não para de gastar, contra o Judiciário que enforca uma semana por causa de um feriado, contra o Governo que não consegue tocar o Bife sem errar na harmonia. E contra a oposição, que ainda não disse o que faria se estivesse no lugar do triste Governo Dilma.

Nem pensar em ditadura. Não funcionou quando Castello, Cordeiro de Farias, Dutra e Eduardo Gomes davam as ordens, e virou barbárie. A saída é reconhecer que não dá mais; substituir os insultos pela busca de alternativas; e estudar grandes reformas- que podem incluir, a partir de 2018, o parlamentarismo, a melhor maneira de livrar-se de um Governo que, ainda jovem, já está velho.

Boi voador não pode

Em 52 anos de imprensa, este colunista aprendeu que nada é mais possível do que o impossível. Já leu a notícia de que haviam cruzado um animal com um vegetal, o famoso boimate; já foi informado do enforcamento de Cristo; já ouviu a gravação de uma chantagem em que um cavalheiro pedia a outro que aceitasse uma quantia menor – e quem negou o desconto saiu livre, enquanto o outro, que pediu o abatimento, acabou preso como chantagista. Já lhe disseram que um ex-parlamentar, de 1m90 de altura e mais de cem quilos, algemado no banco traseiro de um Fusca entre dois policiais armados, dominou-os, dominou o policial armado que ocupava o banco da frente, fugiu correndo e escapou de todos os tiros, entrando no banco traseiro de outro Fusca e desaparecendo (aliás, está desaparecido até hoje). São histórias inacreditáveis. Mas cada dia traz sua novidade: não é que, nesta terça-feira, um peemedebista recusou uma teta das boas, um altíssimo cargo público, oferecido pela presidente da República?

Quando peemedebista recusa um Ministério, todos os bois começam a voar.

Adivinhão

Pepe Vargas, do PT gaúcho, descobriu que só é ministro enquanto ninguém quiser seu cargo. Se Eliseu Padilha aceitasse o lugar, Pepe o Breve estaria na rua.

Ele conhece

O ex-governador fluminense César Maia, excelente analista de pesquisas, vê possibilidades de que o PSB conquiste a Prefeitura de São Paulo em 2016. O PSB ruma para a candidatura da ex-prefeita Marta Suplicy, que será ex-PT.

Pague sem chiar

O Ministério das Minas e Energia autorizou a importação de energia elétrica do Uruguai e da Argentina, para cobrir a produção insuficiente deste ano. A eletricidade importada custa o triplo da produzida nas hidrelétricas brasileiras.

Responda rápido, caro leitor: já sabe quem é que vai pagar o aumento na conta?

Serra, The Fashion

Finesse oblige. O respeitado repórter Jorge Moreno, de O Globo, descreve o encontro do senador José Serra com três repórteres:

“Abordado por um trio de jornalistas no Senado, José Serra (PSDB-SP) virou-se para uma delas e, sem qualquer rodeio, condenou-lhe o visual:

” Na minha época isso era impensável! As repórteres andavam arrumadas!”

Alheio ao semblante incrédulo da moça e das colegas, o tucano completou seu #prontofalei: “Parece que você vai jogar vôlei!”

“Em tempo: a repórter trajava calça de alfaiataria, blusa social e sapatilhas.”

Em termos de moda, o elegante Serra está antenado nas principais tendências do passado remoto. A repórter do calcanhar sujo é personagem de Nelson Rodrigues. Foi apresentada ao público na década de 1960.

As honras da casa

Dois eventos policiais no mesmo dia, segunda-feira, na mesma tarde, na mesma cidade, São Paulo. O rapper Mano Brown, dos Racionais MC, foi preso por desacato, que teria ocorrido ao ser apanhado dirigindo com carteira de motorista vencida; e uma funcionária do Metrô foi estuprada por dois homens.

Quem mereceu a solidariedade do prefeito petista Fernando Haddad e de seu secretário de Direitos Humanos, o também petista Eduardo Suplicy? Mano Brown, claro. Por ordem de Haddad, Suplicy foi à delegacia solidarizar-se com o artista, antes, aliás, de qualquer apuração de sua conduta. E a moça que, enquanto estava no trabalho, foi vítima de estupro, crime hediondo? Nem Haddad, nem Suplicy, nem secretário nenhum sequer lhe telefonou para fingir solidariedade.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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