Lava-Jato: negociatas de André Vargas na Caixa e no Ministério da Saúde iam além da propaganda

andre_vargas_12Ousadia ilimitada – A ligação nefasta do deputado cassado André Vargas Ilário, conhecido como “Bocão”, com a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde é muito maior do que imaginam os integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Preso pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (10), em Londrina (PR), na esteira da “Operação A Origem”, décima primeira etapa da Lava-Jato, Vargas parece não ter se incomodado com o fato de estar envolvido com Alberto Youssef, o doleiro do Petrolão.

Se o ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados tinha alguma dose de preocupação, não deixou transparecer em suas recentes incursões em Brasília, onde voltou a frequentar e a operar nos bastidores do poder. Vargas retomou as atividades nada ortodoxas e passou a se hospedar na casa de amigos na capital dos brasileiros, como forma de não ser identificado nos hotéis da cidade, o que certamente levantaria suspeitas.

André Vargas, cuja prisão já era esperada, mantinha uma conexão com a Caixa e o Ministério da Saúde por meio da empresa IT7, especializada em tecnologia da informação, cujo principal sócio, Marcelo Simões, se prestava ao papel pequeno de ser motorista do ex-petista quando este desembarcava no aeroporto de São José dos Pinhais, na Grande Curitiba. Outro sócio da IT7 é Leon Vargas, irmão do deputado cassado.

De acordo com a investigação da PF, a IT7 foi uma das empresas utilizadas por André Vargas para receber o dinheiro proveniente das negociatas que patrocinou na Caixa e no Ministério da Saúde.

“De acordo com o resultado da diligência de quebra de sigilo fiscal da empresa, constata-se que em 2013, ano da operação com a empresa de Meire Pozza (contadora do doleiro Alberto Youssef), a IT7 recebeu vultuosas quantias de entes públicos. Somente da Caixa Econômica Federal, a IT 7 recebeu quase R$ 50 milhões”, informa a Procuradoria da República.

Já o juiz federal Sérgio Fernando Moro, responsável pela condução, na primeira instância, dos processos decorrentes da Lava-Jato, afirma que as “notas fiscais fraudulentas foram emitidas pela filial da IT7 em Curitiba”.

“Referida empresa mantém contratos com diversas entidades públicas, como a Caixa Econômica Federal, o Serviço Federal de Processamento de dados, Celepar, CCEE entre outras”, destaca o magistrado.

André Vargas, a partir de matéria do UCHO.INFO, passou a desconfiar que estava sendo grampeado, mas a matérias do site que lhe causaram preocupação tiveram como base informações sigilosas e de fontes absolutamente seguras. Por conta desse temor, André não deixou de operar, mas preferiu abandonar a IT7. Para dar sequência, seus comparsas criaram uma nova empresa, a “Illimitati”, que também atua na área de tecnologia da informação.

O esquema criminoso não foi montado após a chegada de Vargas à Primeira Vice-Presidência da Câmara dos Deputados, mas durante seus mandatos parlamentares. Para que o leitor consiga avaliar a extensão do escândalo, um dos comparsas de André Vargas cedeu um jato Citation que foi usado durante a campanha do então petista à vice-presidência da Câmara.

O dono do jato, um empresário que atua fortemente no Distrito Federal e é conhecido pela sigla AMJ, ganhou dinheiro à sombra de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do DF nos governos de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Barbosa ganhou destaque na imprensa nacional ao denunciar Arruda e outros integrantes do governo distrital, no vácuo do escândalo que ficou conhecido como “Mensalão do DEM”. Quem quiser saber a origem do dinheiro de AMJ basta tomar como ponto de partida o “Na Hora”, programa do governo do DF de atendimento imediato ao cidadão.

A farra com o tal jatinho era tão grande, que muitos petistas ligados a André Vargas usaram a aeronave para deslocamentos em todo o País, até porque esses alarifes, em tempo de roubalheira, se recusavam a usar aviões de carreira. Certa feita, o próprio André Vargas usou o jato para percorrer uma distância de apenas 200 km, entre Brasília e Goiânia. Na companhia de sua então secretária, Vargas foi visitar o pai em uma chácara próxima a Goiânia.

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