Em entrevista anual, Putin admite que “foi um erro” impor o comunismo na Europa

(Zmeyev - Reuters)
(Zmeyev – Reuters)
Tarde demais – Vladimir Putin admitiu, em entrevista coletiva anual, nesta quinta-feira (16), que impor o comunismo nos países do leste europeu após o fim da II Guerra Mundial foi um grande erro da Rússia. O presidente russo, acusado por alguns na Europa de ser ambíguo sobre a história soviética, acabou aceitando que impor “pela força” o modelo socialista em países do leste europeu após a II Guerra Mundial não “foi uma boa ideia”.

As declarações do mandatário russo são feitas próximo ao 70º aniversário da vitória da antiga URSS contra a Alemanha nazista. Moscou organiza celebrações com grande pompa para esta data, 9 de maio de 1945, entretanto, a maioria dos líderes ocidentais não comparecerá às cerimônias em razão do conflito na Ucrânia, onde rebeldes apoiados por Moscou buscam a independência no leste do país.

“A escolha [de vir em 9 de maio] pertence a cada líder político. Alguns não querem vir, eu admito, outros não têm autorização [de Washington] de vir mesmo que muitos desejassem”, ironizou. Putin, que já afirmou que a queda da URSS foi “a maior tragédia geopolítica do século XXI”, mostrou-se crítico quanto a atitude da URSS de Joseph Stálin logo após o fim da II Guerra.

“Após a II Guerra Mundial, tentamos impor nosso próprio modelo aos países do leste europeu, e fizemos isso por meio da força”, ressaltou o presidente russo, admitindo que “isso não foi uma coisa boa . “É preciso reconhecer”, insistiu durante sua entrevista coletiva ao vivo. A entrevista anual é realizada com perguntas e jornalistas previamente selecionados.

Vladimir Putin se referiu ao estabelecimento após a II Guerra Mundial de regimes comunistas nos países do leste europeu, principalmente na República Tcheca, Hungria e Polônia. Por mais de quarenta anos, esses países do bloco socialista foram controlados em maior ou menor medida por Moscou. “Continuamos a sentir o eco” da política soviética da época, declarou o russo, afirmando, contudo, que os Estados Unidos fizeram o mesmo. “Os americanos se comportaram mais ou menos da mesma maneira, tentando impor um modelo em todo o mundo, e eles também vão fracassar”, disse.

O ocidente acusa Putin de envolvimento direto na crise na Ucrânia. Essa tensão reacendeu um velho fantasma sobre o controle da URSS de Stálin sobre os países do leste europeu. Os países bálticos e a Polônia, ocupados no passado pelas tropas soviéticas, temem que a atual guerra na Ucrânia seja o início de uma repetição da história. Recentemente, o presidente polonês, Bronislaw Komorowski, considerou que os soviéticos realmente “acabaram com a ocupação hitlerista da Polônia”, mas “não trouxeram liberdade”.

O presidente russo citou, ainda, a adoção pelo Parlamento da Ucrânia de leis que remontam à memória visando a “dessovietização” do país. Estas leis colocam no mesmo patamar os regimes soviético e nazista e proíbem toda “negação pública” de seu caráter “criminoso”, bem como a produção e utilização pública de seus símbolos – como hino, bandeiras ou a famosa foice e martelo – com algumas exceções.

Putin também considerou que não há razões para colocar o nazismo e stalinismo no mesmo nível. “Ainda que fossem monstruosos do ponto de vista da repressão e das deportações de povos inteiros, o regime stalinista não tinha a intenção de aniquilar a população”, considerou. (Por Danielle Cabral Távora)

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