Batalha perdida – Após dezesseis meses da eclosão do pior surto de ebola da história, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou uma espécie de desculpas pela ineficaz resposta à doença. A organização reconheceu que falhou e prometeu promover uma ampla reforma da entidade que hoje vive um sério golpe em sua credibilidade.
Para muitos, diante dos 10,6 mil mortos pela doença e 25,7 mil contaminados na África, o mea-culpa veio tarde demais. Após o surto, o Produto Interno Bruto (PIB) de Serra Leoa, Guiné e Libéria desabaram e a reconstrução dessas economias pode levar uma década.
Os primeiros sinais do ebola surgiram em dezembro de 2013, mas a entidade demorou a reconhecer que o problema existia. Documentos confidenciais da OMS revelaram que o escritório africano do órgão dificultou o trabalho dos especialistas internacionais. Inclusive, em maio de 2014, a organização chegou a declarar aos jornalistas que o surto estava praticamente controlado.
A OMS ainda levou cinco meses e esperou por mil mortos antes de declarar o Ebola como uma emergência de saúde internacional, em agosto de 2014.
Após a tragédia, em um raro comunicado, a entidade apresentou seu “mea culpa” à comunidade internacional. Para organismo da ONU, o surto “serviu de recado de que o mundo, inclusive a OMS, não estão preparados”. “Aprendemos lições de humildade”, admitiu a OMS.
“Fomos lentos e ineficientes ao não alertar de forma mais agressiva o mundo”, indicou o comunicado. “Aprendemos a importância da comunicação”, reconheceu. “Nossa capacidade era limitada, não agimos de forma coordenada e houve confusão nos papéis e responsabilidades.”
A entidade reconheceu que aprendeu “lições de fragilidade”, e indicou que uma das conclusões dessa crise foi a de que o importante não é apenas “passar mensagens”. “Precisamos aprender a lição de ouvir se queremos ser ouvidos”, destacou a OMS.
Segundo sua avaliação, a crise do ebola provou que apenas um sistema global de respostas a surtos pode dar uma solução. “Uma ameaça a um país é uma ameaça a todos”, alertou. A OMS também ressaltou que deixar o sistema de saúde apenas às forças do mercado não funciona. Prova disso é que, apesar da doença ser conhecida há 40 anos, não existia uma vacina diante da falta de interesse econômico das empresas.
A Organização Mundial de Saúde ainda se comprometeu em passar por uma ampla reforma. “Estamos comprometidos a garantir que a OMS será reformada”, indicou. “Alguns dizem que o mundo precisa que uma nova entidade seja criada. Concordamos com isso e queremos que a OMS seja essa organização”, finalizou. (Por Danielle Cabral Távora)