Igual que nem

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16Um alto dirigente político acaba de renunciar ao cargo, depois da denúncia de ter sido subornado por um empreiteiro. Valor do suborno, conforme a denúncia: pouco menos de US$ 28 mil (mil mesmo: não é milhão nem bilhão). O empresário não teve a oportunidade de livrar-se com delação premiada, nada dessas coisas: quando foi acusado por desvio de dinheiro, suicidou-se, deixando uma lista com o nome de altos dirigentes políticos, todos ligados à presidenta da República, e o valor do suborno pago a cada um. O líder renunciante negou as acusações, lembrou que foi o primeiro a propor guerra total à corrupção, garantiu que jamais recebeu suborno nem deste empreiteiro nem de ninguém, mas renunciou para que a sombra de seu alto cargo no Governo não atrapalhasse as investigações. A presidenta já teve vários auxiliares acusados de corrupção (nenhum, entretanto, tão importante quanto este); e garantiu que apoia integralmente as investigações.

História esquisita, não? Mas vamos esclarecê-la: o país não é o Brasil, claro. É a Coreia do Sul. Quem renunciou, acusado de suborno, foi o primeiro-ministro Lee Kwan-koo, ligadíssimo à presidenta da República, Park Geun-hie, que aliás se encontrou com Dilma na sexta-feira. O empreiteiro que se suicidou ao ser acusado de subornador é Sung Wang-hong. Não, ele não pagou para conseguir contratos, mas para receber apoio político à sua candidatura a deputado (e perdeu a eleição). A presidente assegura que, como nos casos anteriores de auxiliares acusados de corrupção, não sabia de nada.

E, caro leitor, deixe a maldade de lado.

Felação premiada

Parece inacreditável, mas há espaço para grandes escândalos fora da área federal (ao menos por enquanto), que combinam sexo, dinheiro e pedofilia. Este, que se segue, é composto de vários crimes hediondos, mais a velha e tradicional corrupção. Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, um ex-deputado, Sérgio Assis, do PSB, e um vereador, Alceu Bueno, do PSL, foram filmados mantendo relações sexuais com meninas de no máximo 15 anos. Quem providenciava as meninas era Fabiano Viana Otero; além das jovens, ele providenciava o equipamento de vídeo e as gravações clandestinas, depois utilizadas para chantagear os clientes. Otero disse contar com a ajuda do empresário Luciano Roberto Pageu e do ex-vereador Robson Martins – ambos com prisão preventiva decretada.

Agora, a parte mais inacreditável: Otero propôs à Justiça e ao Ministério Público uma delação premiada, em que entregaria outros políticos envolvidos no caso, por “participação indireta” na exploração sexual das jovens, e outros vídeos com Sérgio Assis e Alceu Bueno. Em troca, pede que sua prisão seja revogada.

Assim que o caro leitor se recuperar do enjoo, a dúvida: é só lá que tem disso?

Perguntar não ofende

Aos estudiosos de nosso idioma: o escândalo do cartel do Metrô e dos trens metropolitanos, que um dia, imagina-se, antes tarde do que nunca, será levado aos tribunais e julgado, deve chamar-se “Chuchulão” ou “Chuchuzão”?

Poupou? Agora pague!

No Postalis, fundo de pensão dos funcionários do Correio, há um buraco de R$ 5,6 bilhões de reais (e os beneficiários, que ali poupavam para a aposentadoria, terão de cobri-lo). O Postalis, entre outras genialidades financeiras, comprou títulos da Venezuela. O Funcef, da Caixa Econômica Federal, tem déficit de R$ 5,5 bilhões. O Petros, da Petrobras, está com déficit técnico de R$ 6,2 bilhões. O Previ, da Previdência, apresentou em 2014 déficit de R$ 7,8 bilhões.

Para esclarecer esses problemas, os deputados Carlos Sampaio, PSDB, Rubens Bueno, Sandro Alex e Carmen Zanotto, PPS, pediram uma CPI dos Fundos de Pensão. Como só podem funcionar cinco CPIs ao mesmo tempo, esta entrou na fila. Será interessante descobrir onde foi parar o dinheiro da poupança dos empregados.

O estrondo do silêncio

Fundo de pensão é assunto que afeta diretamente os assalariados. Nenhum deputado do PT ou do PCdoB assinou o pedido da CPI dos Fundos de Pensão.

Algum motivo devem ter, não é mesmo?

Primeirão

Ronaldo Caiado, DEM de Goiás, articula mesmo sua candidatura ao Planalto.

Os gênios da política

O Tribunal de Contas da União considerou “crimes de responsabilidade” as pedaladas fiscais do fim do ano passado – o Tesouro deixou de repassar recursos a bancos oficiais, que tiveram de cobrir compromissos do Governo com seus próprios fundos, emprestando o que legalmente não podia ser pedido emprestado.

A defesa do Governo é fantástica: o ministro da Justiça, o advogado-geral da União e o presidente do Banco Central deram entrevista dizendo que isso se faz desde 2001. Como argumento jurídico, é fraco: Caim matou Abel há alguns milhares de anos, os homicídios nunca deixaram de acontecer e nem por isso o assassínio deixou de ser crime. Como política, o argumento é desastroso: se isso se faz desde 2001, o ex-presidente Lula foi apontado por seus aliados como praticante de algo que o Tribunal de Contas da União caracteriza como crime.

Quem tem José Eduardo Cardozo no Ministério não precisa de oposição.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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