Contra a parede – A situação da senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) está cada vez pior no âmbito do Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história. A Polícia Federal tomará novamente o depoimento de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira Odebrecht, a maior do país, para averiguar com mais profundidade a participação da senadora petista no esquema criminoso que sangrou os cofres da Petrobras. A decisão de determinar um novo interrogatório de Marcelo Odebrecht é do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, relator da Operação Lava-Jato na Corte.
Outras seis pessoas também prestarão depoimento no inquérito que investiga Gleisi. São eles: Rafael Angulo Lopez, auxiliar do doleiro Alberto Youssef (encarregado do transporte do dinheiro); Ricardo Pessoa, presidente da UTC; José Aldemário Pinheiro Filho (conhecido como Léo Pinheiro), presidente da OAS; João Ricardo Auler, presidente da Camargo Corrêa; Ronaldo Balthazar, tesoureiro da campanha de Gleisi ao Senado em 2010; e José Augusto Zaniratti, coordenador-geral da campanha. O pedido para ouvi-los foi feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
No dia 14 de abril, em depoimento à Polícia Federal, Gleisi reconheceu ter pedido contribuições a Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, UTC, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez na campanha de 2010, mas negou ter recebido dinheiro do doleiro Alberto Youssef ou do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, principais delatores da Lava-Jato. A petista sustentou que todas as doações foram devidamente registradas e que não houve qualquer promessa de contrapartida.
Em inquérito aberto por ordem do STF, a senadora é investigada por ter recebido R$ 1 milhão de Paulo Roberto Costa em transação intermediada por Youssef (o dinheiro teria sido transportado por Ângulo Lopez, “pombo-correio” de Youssef). A soma teria sido repassada pelo doleiro a um empresário amigo de Gleisi e do ex-ministro Paulo Bernardo da Silva, marido da senadora. Teori também atendeu a outros pedidos de Janot, como identificar telefones utilizados por algumas pessoas que teriam participado das negociações com as empreiteiras.
No depoimento que prestou à PF, Gleisi Hoffmann confessou mais do que deveria sobre a participação das empreiteiras na sua campanha de 2010. Ela relatou que tratou de contribuições com as empreiteiras acima mencionadas. No entanto, na prestação de contas entregue ao TSE, em 2010, Gleisi apontou as doações da Camargo Correa (R$ 1 milhão), OAS (R$ 780 mil), UTC (R$ 250 mil), CR Almeida (R$ 250 mil). Não aparecem as doações da Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão.
A UTC financia Gleisi desde sua primeira campanha em 2004, à prefeitura de Curitiba. A empreiteira já repassou R$ 1,45 milhão à petista: R$ 150 mil (2004), R$ 100 mil (2006), R$ 250 mil (2010) e R$ 900 mil (2014). Em todas as campanhas da agora senadora (2004, 2006, 2010 e 2014) não aparecem doações da Odebrecht e OAS. Somente em 2014 aparece uma doação de R$ 475 mil da Queiroz Galvão.
Em 2014, as doações das empreiteiras envolvidas no Petrolão para Gleisi ocorreram em maior volume e somaram mais de R$ 7,7 milhões. Além da Queiroz Galvão, Gleisi recebeu R$ 150 mil do Banco Pactual (listado na Operação Lava-Jato) e mais R$ 200 mil da TV Técnica Viária Construções Ltda. O restante dos recursos foram doados pela Triunfo (R$ 2 milhões), Sanches e Tripoloni (R$ 1,9 milhão), Andrade Gutierrez (R$ 950 mil), UTC (R$ 950 mil) e Galvão Engenharia (R$ 420 mil).
As doações da Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão podem estar camufladas em dinheiro repassado pelos diretórios nacional e estadual do PT. Em 2010, por exemplo, Gleisi teve ainda a maior parte de sua campanha irrigada em R$ 3,7 milhões doados por empreiteiras. Outros R$ 2,7 milhões foram doados pelos diretórios estadual (R$ 881,3 mil) e nacional (R$ 1,9 milhão) do PT que obtiveram 75% dos seus recursos através de doações de empreiteiras.