O tucano é um fingidor

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09O PSDB resolveu desgastar Dilma Rousseff. É seu direito, como partido de oposição; o que não é direito é votar contra suas próprias ideias só para enfraquecer a adversária. Se o PSDB tivesse chegado à Presidência, seu plano de ajuste da economia seria praticamente o mesmo de Joaquim Levy, esse que Dilma teve de engolir (isso não é dedução: é informação). Votar contra o ajuste, só para agradar a plateia, é coisa de quem não tem responsabilidade para com o país.

James F. Clarke, escritor americano do século 19, disse que o político se preocupa com as próximas eleições e o estadista com as próximas gerações. Churchill, estadista, rejeitou a tese altamente popular de ceder aos nazistas em troca da paz. E, ao assumir o poder, prometeu sangue, trabalho, suor e lágrimas. Não era um político comum. Quem, no PSDB, se destacou do comum dos políticos?

Lutar contra o Governo, OK. Lutar contra a presidente, OK. Rejeitar a indicação de Edson Fachin para o Supremo, OK: seria um ato político legítimo. Derrotar Dilma numa indicação para o Supremo causaria muito desgaste para o Governo. Mas, em vez de lutar contra Fachin, o alto-comando do PSDB foi para Nova York, prestigiar mais uma das inumeráveis homenagens a Fernando Henrique. Ou, em palavras mais duras, fugiu da raia. Só voltou à disputa para rejeitar exatamente aquilo que, se estivesse no Governo, estaria lutando para aprovar.

Como não disse o poeta Fernando Pessoa, o tucano é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que crê naquilo em que apenas mente.

Ser ou não ser

Isso significa que, para este colunista, a política econômica de Joaquim Levy está correta? Nem sim nem não: o colunista rivaliza com o ex-ministro Mantega no conhecimento da Economia, e não tem a menor ideia do acerto ou não das propostas de Levy. Mas sabe que a maioria do PSDB pensante não só concorda com essas propostas como pretendia aplicá-las.

E os tucanos se comportaram como aqueles atacantes dribladores, cheios de firulas: gol que é bom, nada.

Volta, Stanislaw!

Um dos mais brilhantes cronistas brasileiros, Stanislaw Ponte Preta (também autor do notável Samba do Crioulo Doido), clamava: “Ou restaure-se a moralidade ou todos nos locupletemos”. Sérgio Porto, nome real de Stanislaw, morreu há quase 50 anos. Como faz falta!

Hoje só se locupleta quem já está locupletado.

Ói eles em nóis

Estes números são oficiais: 1,6 milhão de pessoas em idade ativa sem emprego (fora os que desistiram de procurar ou vivem de programas de ajuda), redução do salário médio em 0,5% em abril (e 2,9% em relação a abril do ano passado), queda de 0,81% no PIB no primeiro trimestre (em 12 meses, a queda foi de 1,18%). A produção industrial caiu 5.9%. E isso antes dos cortes no orçamento.

Ói nóis pra eles

1 – A Folha de S. Paulo do dia 22 entrevistou três desembargadores paulistas a respeito da aposentadoria aos 70 ou 75 anos. Os três recebem entre R$ 85 mil e R$ 105 mil mensais – embora o teto constitucional seja o salário dos ministros do Supremo, de R$ 33.700,00. Mas está tudo bom, tudo bem, tudo legal.

2 – O presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, R$ 33.700,00 de salário, mais vantagens diversas: “Nós precisamos sempre de reajuste. Quem é que não precisa pagar o supermercado, já que houve um aumento do preço dos produtos?” O ministro Luiz Fux já concedeu auxílio-moradia de R$ 4.300,00 mensais a todos os juízes do país. Disse o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador José Roberto Nalini: “O auxílio foi um disfarce para aumentar um pouquinho. E até para fazer com que o juiz fique um pouquinho mais animado, não tenha tanta depressão, tanta síndrome de pânico, tanto AVC”.

3 – Numa medida provisória que tratava da tributação de produtos importados, a Câmara Federal incluiu e aprovou, por 273 a 184, um artigo que permite ampliar as já amplas instalações legislativas com um novo prédio (que pode ser construído por PPP, Parceria Público-Privada), novos gabinetes, novo estacionamento e um shopping center. Para que? Ótima pergunta! Coisa de R$ 1 bilhão.

4 – Mas o Brasil não é só Brasília. As extravagâncias se espalham pelo país. O vereador curitibano Chico do Uberaba, PMN, recebe R$ 15.156,70 por mês, mais carro, com direito a 200 litros mensais de gasolina, mais verba para contratar sete funcionários e dois estagiários, mais verba para selos – sim, ainda existe quem mande cartas. Acha pouco: “Estamos pagando para trabalhar”.

O social dos poderosos

O ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, que revelou o escândalo do Mensalão, casa-se dia 29, com festa num clube em Três Rios, RJ, com Ana Lúcia Novaes. Espera-se grande demonstração de força política. A deputada federal Cristiane Brasil, sua filha, está cotadíssima para a presidência do novo partido que resultará da fusão entre PTB e DEM. Jefferson cumpriu 14 meses em regime fechado na Penitenciária da Papuda, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro; hoje está em prisão domiciliar. Seu mandato parlamentar foi cassado, mas ele manteve o direito à aposentadoria pela Câmara dos Deputados.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

apoio_04