Mais próximo de Blatter: secretário-geral da FIFA recebeu pedido suspeito de US$ 10 milhões

jerome_valcke_05Pressão total – O francês Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, recebeu pedido de repasse de US$ 10 milhões (R$ 32 milhões) que as autoridades norte-americanas alegam ser propina de esquema de corrupção no futebol, aponta um documento em poder das autoridades que participam da investigação.

De acordo com documento divulgado pelo canal sul-africano SABC, Valcke recebeu uma solicitação por escrito no dia 4 de março de 2008 do ex-presidente da Associação de Futebol Sul-Africana, Molef Oliphant, pedindo a transferência desse montante para Jack Warner, então presidente da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central.

As investigações mostram que esse dinheiro foi usado para comprar votos a favor da candidatura da África do Sul à Copa de 2010. A carta destaca que os US$ 10 milhões devem ser “administrados e implementados” por Jack Warner, acusado de ligação com o esquema que levou sete cartolas da FIFA à prisão no dia 27 de maio, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin.

O documento mostra também que Valcke tinha, pelo menos, ciência dos valores. Procurada, a FIFA diz que o documento não contradiz sua versão sobre o episódio afirmando que Valcke, como secretário-geral, recebe “todas as cartas e solicitações” da entidade.

Joseph Blatter, presidente da FIFA que renunciou ao cargo nesta terça-feira (2), em entrevista coletiva no último sábado, foi indagado se era o responsável por liberar os US$ 10 milhões. “Definitivamente, não sou. Não tenho US$ 10 milhões”, respondeu. Ao seu lado, estava o próprio Jérôme Valcke, em silêncio. Naquele momento, ambos não contaram o que sabiam da história, inclusive da existência dessa carta.

De acordo com a FIFA, a liberação do dinheiro coube a Julio Grondona, então presidente do comitê de finanças da FIFA e que faleceu em 2014. A entidade ratificou que Valcke nem outro membro do comando da entidade estavam envolvidos no caso.

A FIFA argumentou que, em 2007, o governo sul-africano elaborou um projeto de US$ 10 milhões para apoiar a diáspora africana nos países do Caribe, como parte do legado da Copa-2010, sediada na África do Sul.

Ainda segundo a entidade, a partir dessa solicitação a federação africana pediu que o dinheiro para esse projeto fosse gerido pelo então presidente da Concacaf, Jack Warner, que teria recebido a quantia para executá-lo. A Fifa alega também que os US$ 10 milhões saíram do orçamento do Comitê Organizador Local da Copa-2010, órgão subsidiário da entidade máxima do futebol. Os pagamentos teriam sido aprovados por Julio Grondona.

Por fim, a FIFA afirma que nem Valcke nem outro executivo participou da implementação do projeto.

De acordo com o jornal “The New York Times”, funcionários do governo norte-americano, falando sob condição de anonimato, apontaram Valcke como o responsável pela transferência de US$ 10 milhões. A revelação aproxima o escândalo do presidente da FIFA, Joseph Blatter, de quem Valcke é braço direito. O número 2 da instituição seria o “alto funcionário da FIFA” que, segundo o indiciamento, transferiu o montante para contas controladas por Jack Warner, na época presidente da Concacaf.

O pagamento foi feito em três parcelas entre janeiro e março de 2008, e é central no indiciamento de Warner e compõe um dos escândalos de corrupção que estão sendo investigados nos EUA. (Por Danielle Cabral Távora)

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