Construtora investigada pela PF doou R$ 3 mi ao Instituto Lula, o que confirma notícia do UCHO.INFO

lula_363Tiro certeiro – Em 29 agosto de 2014, quando o UCHO.INFO afirmou que a Operação Lava-Jato não demoraria muito para subir a rampa do Palácio do Planalto, alvejando Lula e a presidente Dilma Rousseff, muitos acreditaram ser um tiro no escuro, algo que não faz parte da trajetória deste site. Considerando que o editor foi um dos responsáveis pela denúncia que culminou com a operação da Polícia Federal, a afirmação tinha não apenas razão de ser, mas informações exclusivas e confirmadas, as quais nos permitiram fazer a matéria em questão.

A notícia de que empreiteiras transferiram valores para o Instituto Lula não foi surpresa para os leitores do site. Entre 2011 e 2013, a construtora Camargo Corrêa pagou R$ 3 milhões para o instituto que leva o nome do ex-presidente, além de R$ 1,5 milhão para a LILS Palestras, Eventos e Publicidade, empresa do petista. Vale ressaltar que é a primeira vez que os negócios de Lula aparecem nas investigações da Operação Lava-Jato, que apura um esquema de cartel e corrupção na Petrobras com prejuízo de anunciado de R$ 6 bilhões, mas que na verdade passa de R$ 80 bilhões.

O registro sobre o elo da empreiteira com Lula consta do laudo 1047/2015 – de 66 páginas e subscrito pelo perito criminal federal Ivan Roberto Ferreira Pinto -, da Polícia Federal, anexado nesta terça-feira, 9, aos autos da investigação.

A perícia foi realizada na contabilidade da Camargo Corrêa referente ao período de 2008 a 2013. Foi neste intervalo de tempo que a empreiteira recebeu R$ 2 bilhões da Petrobras. O documento ainda mostra que a construtora repassou R$ 183 milhões em “doações de cunho político”, ou seja, destinadas a candidaturas e partidos da situação e da oposição.

O Instituto Lula foi criado em 2011 pelo ex-presidente, após ter desocupado o Palácio do Planalto, e recebeu três pagamentos de R$ 1 milhão cada. Dois dos recebimentos foram registrados como “Doações e Contribuições”, um deles em dezembro de 2011 e o outro em dezembro de 2013. Contudo, o que atraiu a atenção dos investigadores foi o lançamento de julho de 2012, sob a rubrica “Bônus Eleitoral”.

Já no caso dos pagamentos ao LILS, cujo endereço declarado é a própria residência de Lula, em São Bernardo do Campo, a empreiteira registrou o depósito em conta corrente de R$ 337,5 mil, em setembro de 2011, R$ 815 mil, em dezembro de 2012, e R$ 375,4 mil, em julho de 2013. Esses valores, que somam R$ 1,5 milhão, são tratados pela empreiteira como serviços de “consultoria”.

Dalton dos Santos Avancini e Eduardo Hermelino Leite, executivos da Camargo Corrêa, confessaram nos processos judiciais decorrentes da Lava-Jato, em acordo de delação premiada, que foram feitas doações eleitorais ao PT após pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, preso desde abril em Curitiba. Porém, eles não citaram o ex-presidente.

Entretanto, o nome de Lula chegou a ser mencionado pelo doleiro Alberto Youssef – principal delator da Lava-Jato – ao afirmar à Procuradoria da República, em outubro de 2014, que “tinham conhecimento” do esquema de corrupção na estatal “o Palácio do Planalto” e “a presidência da Petrobras”.

Até o momento, Lula não é investigado pela Lava-Jato, mas alguns parlamentares defendem a convocação do ex-metalúrgico para depor na CPI da Petrobras, na Câmara dos Deputados.

Adepto da tese de que a melhor defesa é o taque, Lula, recentemente, atacou o que chamou de “insinuações” envolvendo seu nome na operação. “Eu não ia dizer isso aqui, mas estou notando todo santo dia insinuações. ‘Lá na Lava Jato vão citar o nome do Lula’. ‘Querem que empresários citem meu nome’. ‘O objetivo é pegar o Lula’”, afirmou o petista.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Instituto Lula informou que os valores registrados na contabilidade da Camargo Corrêa foram doados legalmente, sem qualquer relação com a Petrobras ou eleições. “Os valores citados no seu contato foram doados para o Instituto Lula para a manutenção e desenvolvimentos de atividades institucionais, conforme objeto social do seu estatuto, que estabelece, entre outras finalidades, o estudo e compartilhamento de políticas públicas dedicadas à erradicação da pobreza e da fome no mundo”, ressaltou a nota, digna de indagações e especulações.

No mesmo documento da Polícia Federal também constam os pagamentos da Camargo Corrêa para a JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu, que é investigado por suposto uso das consultorias para empresas do cartel como forma de ocultar propina para o PT. No laudo consta que foram lançados como pagamentos para a JD, entre 2010 e 2011, R$ 900 mil, em dez depósitos bancários. (Danielle Cabral Távora)

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