Chefe do Itamaraty terá de explicar imbróglio dos documentos secretos sobre Lula e a Odebrecht

mauro_vieira_01Soltando a voz – O ministro das Relações Exteriores, Mauro Luiz Iecker Vieira, terá de revelar aos integrantes da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados os detalhes da “Operação Abafa” que tinha por objetivo tornar sigilosos documentos relacionados à construtora Odebrecht no período entre 2003 e 2010. O pedido de audiência, apresentado pelo líder do PPS na Casa, deputado federal Rubens Bueno (PR), foi aprovado pelo colegiado nesta quarta-feira (24), mesmo dia em que a imprensa revelou que, da prisão, o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, ordenou a seus advogados a destruição de-mails sobre negócios relacionados com a Petrobras. Os depoimentos já prestados no processo da Operação Lava-Jato citam por diversas vezes o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o lobista Lula, e sua sucessora, a presidente Dilma Vana Rousseff.

“Queremos saber de quem partiu a ordem e todos os detalhes da operação que pretendia esconder da sociedade brasileira toda essa documentação relacionada com a Odebrecht. Esse zelo todo levanta uma série de dúvidas que pretendemos elucidar durante a audiência na comissão”, afirmou Rubens Bueno. Inicialmente o pedido era de convocação, mas, por meio de acordo, foi transformado em convite. A data da audiência, que também poderá abordar o incidente na Venezuela com senadores brasileiros, ainda será definida.

O caso

De acordo com reportagem do jornal “O Globo”, o Itamaraty repassou orientações internas para que documentos “reservados” que citassem a empreiteira, investigada na Lava-Jato, fossem reclassificados como sigilosos. Após a divulgação, o ministério interrompeu a operação e repassou os documentos, que citam o ex-presidente Lula, para a revista Época.

Rubens Bueno afirmou que a manobra que estava sendo gestada pelo Itamaraty levanta muita suspeita, principalmente quando as empreiteiras, diversos ex-integrantes do governo federal e membros de partidos da base aliada são acusados de envolvimento no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história do planeta. Na opinião do parlamentar, a suposta reclassificação cria dúvidas sobre a verdadeira relação de Lula com a Odebrecht.

“Essa suposta tentativa de reclassificação de documentos por parte do Itamaraty aponta que existia uma manobra visando proteger dados ligados ao ex-presidente Lula que poderiam configurar tráfico de influência com a Odebrecht. Também resta a dúvida se existem outros documentos que citam a Odebrecht e Lula e que ainda não foram divulgados”, disse.

Venezuela na pauta

Na reunião desta quarta-feira, a comissão também chegou a discutir a aprovação de um convite do vice-líder da Minoria, deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE), para que o embaixador brasileiro em Caracas, Rui Pereira, explique o incidente que envolveu senadores brasileiros durante viagem a Caracas para analisar a situação de respeito aos direitos humanos no país. Após quase duas horas de debate, o pedido acabou sendo retirado de pauta a pedido do autor, que pretende retomar a discussão na próxima reunião da comissão.

As defender a vinda do embaixador para o Brasil, Rubens Bueno lembrou que foi o autor do requerimento para a formação da comissão externa da Câmara criada em março deste ano. “No dia 5 de julho completaremos quatro meses sem ter a palavra do governo brasileiro e da Venezuela sobre a presença dessa comitiva na Venezuela, que integra o Mercosul. Os senadores foram impedidos e sitiados. Isso é uma demonstração clara da intolerância e violência que toma conta do governo venezuelano. Queremos ir lá e cumprir nosso papel como membros do Mercosul para verificar se há ou não democracia”, destacou.

Ele explicou ainda que a comitiva não segue uma ideologia única e lembrou que foram indicados nomes de todos os partidos para formar o grupo, incluindo o PT, PSOL, PMDB. PSD e PSDB. “É um conjunto de forças”, argumentou.

Na última quinta-feira (18), oito senadores, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, e José Medeiros (PPS), tiveram que voltar ao Brasil após cinco horas de espera e duas tentativas frustradas de sair do aeroporto para visitar presos políticos do regime de Nicolás Maduro. O micro-ônibus deles chegou a ser cercado por manifestantes que apoiam o governo venezuelano. Os parlamentares acusam a diplomacia brasileira de não ter dado o suporte necessário para que fosse garantida a segurança da comitiva.

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