Dinheiro sujo – Grande parte da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, dedica-se exclusivamente ao sistema de arrecadação de propina montado pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que está preso em Curitiba sob a acusação de operar a coleta do “pixuleco” que as empreiteiras do Petrolão reservavam ao partido do governo.
O empreiteiro revelou que só por uma única obra da Petrobras, a construção do Comperj, no Rio de Janeiro, a UTC destinou o valor R$ 15 milhões ao caixa clandestino do PT. Pessoa afirma que o pagamento da propina era condição para que a empreiteira fosse escolhida para tocar o empreendimento.
O Comperj, um complexo petroquímico projetado para ampliar a capacidade de refino da Petrobras, começou a ser construído em 2006. Foi orçado inicialmente em US$ 6,1 bilhões, entretanto a conta já passa de US$ 30 bilhões. E não há a mínima previsão de quando começará a funcionar.
De acordo com Ricardo Pessoa, o pacote de obras foi dividido. A UTC ficou com o maior contrato, de R$ 11,5 bilhões, em consórcio com a Odebrecht e com a japonesa Toyo. O empresário também revelou aos investigadores que o pagamento das “comissões” ficou a cargo dos integrantes do consórcio. A UTC foi encarregada de pagar ao PT. A Odebrecht ficou responsável pelo suborno entre aos políticos do Partido Progressista (PP), representado nas negociações pelo então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e pelo doleiro Alberto Youssef.
O empreiteiro relevou que os pagamentos de propina ao PT não se limitavam ao período eleitoral: eram realizados “de modo contínuo”, seja por meio de doações oficiais, seja por repasses de dinheiro vivo. Quando os repasses eram em dinheiro, a transação era pilotada diretamente com Vaccari nos encontros realizados na sede da UTC. Nos documentos que anexou ao processo, Ricardo Pessoa incluiu vídeos das câmeras de segurança da empresa que colocam o tesoureiro petista na cena do crime.
As planilhas, que estão em poder do Ministério Público, demonstram que os repasses eram cuidadosamente contabilizados pelo empreiteiro, como se fosse uma conta-corrente. Havia a coluna dos “créditos” que o tesoureiro recebia como propina das obras da Petrobras e a dos “débitos” com as deduções de pagamentos solicitados por Vaccari ou pelo PT, como as “consultorias” do ex-ministro José Dirceu. Sob o título “JVN-PT” (João Vaccari Neto – PT), o documento traz valores pagos entre 2008 e 2013.
Ricardo Pessoa ainda informou os números dos telefones celulares a que Vaccari costumava atender – e listou encontros em hotéis de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde se reuniu com o petista para tratar do rateio da propina.
“Nas principais obras da Petrobras existia um arranjo entre empresas concorrentes, que funcionava por intermédio de um pacto de não agressão e de fixação de prioridades na obra.” O empreiteiro disse que pagava a propina ao PT para “evitar dificuldades no futuro e para manter a engrenagem funcionando”. (Danielle Cabral Távora)