Veneno caseiro – Comportando-se como um ácido integrante da oposição ao governo da petista Dilma Rousseff, o alarife e agora lobista Luiz Inácio da Silva reuniu-se nesta terça-feira (30), em Brasília, com peemedebistas na residência oficial do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL). Oficialmente, o encontro era para avaliação da conjuntura política e o ex-metalúrgico chegou acompanhado de Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula e conhecido como “trem pagador” das despesas do ex-presidente da República.
Além de Renan, participaram da reunião o ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB-AP), que em 2014 anunciou sua saída da vida política, e os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Eunício Oliveira (PMDB-CE), Jorge Viana (PT-AC) e Delcídio Amaral (PT-MS).
Informações divulgadas apontavam que Lula discutiria com os senadores algumas alternativas para a crise política que vem chacoalhando o Brasil, mas na verdade o encontro serviu para o petista tentar o evitar desembarque do PMDB da base aliada. Recentemente, Lula criticou sua sucessora e pediu renovação do PT, que, em sua opinião, perdeu a capacidade de gerar utopias e está apegado a cargos.
Lula também participou na noite de segunda-feira (29), na capital dos brasileiros, de reunião com as bancadas do PT na Câmara e no Senado. Na ocasião, ele reconheceu que a situação atual do governo Dilma, alvo de novas denúncias de corrupção, “é preocupante e dramática”, como se ele próprio não fosse responsável pelo cenário de crise que se alastra de forma impressionante. O petista ressaltou que o PT precisa “ressurgir”, discurso evasivo que, após o escândalo do Mensalão, foi entoado por Tarso Genro, que na ocasião assumiu o comando do partido e prometeu refundá-lo.
O ex-presidente ainda encontrou-se com João Santana, marqueteiro da campanha pela reeleição de Dilma, e telefonou para o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que foi citado na delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa. Não se pode esquecer que a relação entre Lula e Mercadante sempre foi ruim, por isso causa espécie a atitude do ex-presidente de procurar o chefe da Casa Civil, como se a ele coubesse a responsabilidade de gerenciar o governo atual.
Coincidentemente, a passagem de Lula por Brasília aconteceu enquanto Dilma Rousseff está em viagem oficial aos Estados Unidos, causando grande desconforto no Palácio do Planalto. De acordo com avaliação de assessores da presidente, o “timing” é péssimo e o petista está passando a imagem de que está assumindo as rédeas da articulação política do governo.
Que Lula sempre mandou no PT e principalmente nos bastidores do governo de sua sucessora todos sabem, mas o que está em voga no momento é um golpe dentro do próprio partido, o que faz do petista um ferrenho adversário de Dilma.
Lula sabe que a situação de Dilma Rousseff é frágil e que os desdobramentos da Operação Lava-Jato, em especial das delações premiadas, podem abreviar o governo do PT. De tal modo, diante da possibilidade de impeachment ou de cassação do registro da candidatura de Dilma, Lula começa a se apresentar como candidato natural, precisando para tanto do apoio do PMDB, partido que sempre pautou sua existência pelo fisiologismo e pelas negociatas criminosas.
Luiz Inácio da Silva é um animal político, ao mesmo tempo em que é um alarife experimentado, por isso procurou o PMDB para reforçar a artilharia contra Dilma no Congresso Nacional, assunto que vem sendo comandado por Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Faz necessário lembrar que Lula desconhece o modus operandi do presidente da Câmara, que pode ser uma perigosa armadilha no caminho dos seus projetos políticos. (Danielle Cabral Távora com Ucho Haddad)