Eduardo Cunha rompe com o governo de Dilma Rousseff e aconselha o PMDB a fazer o mesmo

eduardo_cunha_20Perto do fim – Na manhã desta sexta-feira (17), em nota publicada em seu site, o PMDB afirmou que a decisão de rompimento com o governo tomada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é “a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB”.

Em entrevista, Cunha afirmou que o governo quer arrastá-lo para a lama e revelou que está rompendo pessoalmente com o PT. “Eu, como político e deputado do PMDB, e não como presidente da Câmara, vou pregar no congresso do PMDB, em setembro, que o PMDB saia do governo. Eu, pessoalmente, a partir de hoje, me considero com um rompimento pessoal com o governo”, ressaltou o peemedebista, apenas um dia após vir a público o depoimento do lobista Júlio Camargo, que acusa o peemedebista de cobrar US$ 5 milhões em propinas.

De acordo com o comunicado publicado pelo PMDB pouco depois das declarações do deputado, “toda e qualquer decisão partidária só pode ser tomada após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional”. Michel Temer, vice-presidente da República e articulador político do governo, é também presidente nacional do PMDB.

O presidente da Câmara ainda afirmou que, como deputado, não aceita que o PMDB faça parte de um governo que quer arrastar os que o cercam “para a lama”.

Eduardo Cunha se defendeu das acusações de ter recebido propina e atacou o governo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o juiz Sérgio Moro e os delatores Julio Camargo e Alberto Youssef. Ele também pedirá que o processo vá para o Supremo Tribunal Federal.

Para o deputado, “estão pegando dados do Youssef seletivamente”, uma vez que o doleiro relatou que Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva sabiam do esquema, contudo não foram alvo de inquérito.

O presidente da Câmara ainda foi mais longe e alertou que defenderá, no Congresso do PMDB, em setembro, que o partido desembarque do governo e passe a fazer oposição. Ao indagado se não seria inviável o seu partido ir para oposição tendo Michel Temer como vice-presidente da República, ele disse que não. “Ele é indemissível”, afirmou.

Cunha reclamou do que ele classificou como devassa fiscal à sua vida em decorrência de uma fiscalização da Receita Federal. “Não vou ser constrangido para que meu posicionamento seja favorável ao governo”, disse. “Continuarei com meu comportamento independente, sem mudar uma vírgula”.

Ele também ressaltou que não pode falar pelo PMDB, que não obrigará ninguém a segui-lo e que apesar desse rompimento, continuará a pautar as matérias do governo normalmente. “Mesmo que PMDB continue apoiando o governo, minha posição será essa”, afirmou.

Cunha explicou que o vice-presidente Michel Temer foi informado e que respeita sua decisão. Garantiu também que não há qualquer rompimento com o vice-presidente. “Se o partido decidir que tem de sair dos ministérios, tem de sair. É uma decisão do partido”, observou.

De acordo com o parlamentar, as ações da Procuradoria-Geral da República são orquestradas com o governo. Ele questionou por que não foram abertos inquéritos contra os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social).

Questionado sobre um possível procedimento de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Cunha disse que vai olhar tudo com “olhos da Constituição e da lei”. “Não tenho leitura de oposição ou situação, mas dos fatos”, disse.

Cunha se defendeu, também, das declarações feitas por Julio Camargo, que acusou o peemedebista de ter recebido US$ 5 milhões em propinas. “Não houve recebimento de dinheiro direto ou indireto”, garantiu. Ele afirmou ainda que não existe blocão e que não está se articulando com outros deputados para formar uma oposição. “Não acho que tem de tacar fogo no País por causa de uma briga política. Não sou do tipo incendiário, que põe fogo na economia”, disse.

Se Eduardo Cunha tem certeza de que o barco irá de fato afundar e resolveu ser um dos primeiros a pular, só ele poderá dizer, mas que o rompimento foi oportuno, isso é inegável. (Danielle Cabral Távora)

Íntegra da nota do PMDB:

“Nota à imprensa

A manifestação de hoje do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do PMDB. Entretanto, a Presidência do PMDB esclarece que toda e qualquer decisão partidária só pode ser tomada após consulta às instâncias decisórias do partido: comissão executiva nacional, conselho político e diretório nacional.

Assessoria de Imprensa do PMDB”

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