Códigos odebrechtianos – Relatório da Polícia Federal sobre o celular de Marcelo Odebrecht, preso pela Lava Jato, mostram vários políticos, da base do governo e da oposição, com os quais o presidente da Odebrecht tinha algum contato, sua preocupação com a operação da PF e, principalmente, seu esforço para utilizar siglas e mensagens codificadas para se referir a políticos e registrar algumas transações.
O maior empreiteiro do País utilizava em seu aparelho siglas como GA (referência ao governador Geraldo Alckmin), MT (Michel Temer), GM (Guido Mantega), JS (neste caso a Polícia Federal utilizou uma tarja preta para não identificar o contato), FP (a PF usou também uma tarja preta para não identificar o contato) e algumas mais óbvias como ECunha, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Há também referências a Lula, “Dida” (Aldemir Bendine, presidente da Petrobrás), e “Beto” (secretário nacional de Justiça Beto Ferreira Martins). Na análise, a Polícia Federal limita-se a transcrever as anotações da agenda do empreiteiro.
Como revela a análise do material apreendido na residência de Marcelo Odebrecht, em duas ocasiões, há registros na agenda do celular de encontros com políticos. Ele teria se reunido com Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, em outubro do ano passado, e com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em 21 de novembro de 2014, já depois da Juízo Final, etapa da Lava Jato que levou à prisão outros executivos de grandes empreiteiras do País. O detalhamento do encontro com o vice-presidente, contudo, aparece coberto por uma tarja preta no relatório.
Algumas anotações do dia 9 de janeiro de 2013 chamaram a atenção dos investigadores, como o tópico “Créditos”.
Também há o tópico “notas antigas”, no qual está a referência “adiantar 15 p/JS” e em seguida a anotação “IPI até dez e pis/Cofins até jan”. Ainda relacionado a este tópico há o título “Contribuição”, a partir do qual surgem várias referências de valores seguidas de siglas que a Polícia Federal ainda não conseguiu identificar claramente.
A Odebrecht respondeu: “Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do executivo e ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação à Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras”.