(*) Ipojuca Pontes –
O grande e marcante acontecimento das manifestações de protestos contra o corrupto desgoverno do PT – ocorridas em todo Brasil no fatídico mês de agosto – foi, sem sombra de dúvida, a aparição do boneco inflado de Lula a desfilar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, metido numa roupa de presidiário.
No meio da multidão indignada, mas eufórica, o Lula inflável levitou no ar atrelado por fortes correntes ao aparato de uma enorme bola de ferro, dessas que impedem a fuga do prisioneiro, onde se lia a inscrição “Operação Lava-Jato”. E, dado ainda mais corrosivo: no peito do gigantesco boneco, destacavam-se, em tarja larga, os números “13-171”, alusivos, como é fácil de deduzir, à encalacrada legenda petista e ao artigo do Código Penal Brasileiro que define o estelionato como crime cometido para “obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo do alheio”. Sem meias palavras, o impacto da alegoria traduziu abertamente o respeito que a população cabocla dedica hoje ao “presidiável” líder do PT, ou seja: nenhum!
De fato, nessas manifestações nacionais de rua, milhões e milhões de pessoas foram objetivas nas palavras de ordem contidas em suas bandeiras e cartazes: Fora Dilma! Fora Lula! Fora PT! Fora comunistas ladrões!
(Quero lembrar ao distinto leitor que a alegoria do boneco de Lula não registra apenas a exposição de um pensamento sob forma figurada. No caso, ela significa a representação de uma vontade inabalável que se apoderou do consciente coletivo nacional).
Diante do clamor geral, a pergunta que se impõe é a seguinte: por que a população nativa tornou-se eufórica com a possibilidade de ver Lula por trás das grades?
Bem, as razões são inúmeras e estão sendo expostas, de forma vertiginosa, pelos peritos da Operação Lava-Jato. Aponto duas delas. A primeira, diz respeito ao repasse de R$ 27 milhões à empresa LILS (iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva), pelo que se diz, destinados ao pagamento de “palestras motivacionais” proferidas pelo líder do PT, aqui e alhures, dos quais R$ 10 milhões saídos dos cofres de empreiteiras denunciadas pela Polícia Federal por crimes de roubo e corrupção. (Diante dos números milionários, expostos pelo Coaf, o instituto de Lula apressou-se em declarar que foram feitas 70 palestras, financiadas por 41 empresas, deixando de informar, todavia, o total dos recursos repassados ao ex-presidente). De todo modo, dos R$ 27 milhões arrecadados pela LILS, o vosso Lula, perfeitamente integrado no mundo da elite capitalista, investiu R$ 12,9 milhões em aplicações financeiras e outro tanto em plano de previdência privada.
A segunda razão tem a ver com outro pepino grosso que desaba sobre a “biografia” de Lula, qual sejam as milionárias doações feitas pelo fabricante da cerveja Itaipava para financiar as campanhas do PT. Documentos publicados pela revista Isto É (19/08/2015) mostram que o dono da Itaipava, Walter Faria, dileto amigo de Lula, “se tornou um dos principais financiadores das eleições de Dilma Rousseff depois de receber propinas do esquema que desviou bilhões da Petrobras”. As doações, segundo o Ministério Público Federal, envolvem complexas movimentações financeiras que “passam por contas e empresas de ocasião na Suíça, Monte Carlo e Uruguai”. Na raiz de tudo está a delação de Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal, que repassou propina de US$ 15 milhões depositados em contas indicadas por Nestor Cerveró, ex-diretor trancafiado da Petrobras, entre elas duas pertencentes a Walter Faria, conhecido como o Sr. Itaipava.
(O constrangedor em tudo é que a revista tem, como capa, a imagem de um Lula sôfrego, de olhar vítreo e rosto encharcado, entornando copo de cerveja durante a inauguração de fábrica da Itaipava em Pernambuco, obra financiada pelo Banco do Nordeste, órgão controlado pelo Governo Federal).
Nota informativa: o pessoal do Movimento Brasil, responsável pela criação do “Lula Inflável”, pretende levá-lo em excursão pelas principais cidades do país, numa operação considerada “didática”. O boneco, odiado pela cúpula petista, desfilará por trás de seguras grades de ferro, numa gaiola gigantesca (o boneco mede 12 metros de altura).
Alguém duvida do extraordinário êxito da turnê?
(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.