Camisa listrada

(*) Carlos Brickmann –

São três movimentos de xeque à rainha; por coincidência, simultâneos.

carlos_brickmann_091 – Neste jogo de xadrez, o Supremo autorizou investigações, pedidas pelo procurador Janot, contra dois ministros próximos de Dilma, Edinho Silva e Aloízio Mercadante. Ambos levam para dentro do Palácio do Planalto a Operação Lava Jato, que agora sitia o Governo. Ambos carregam maldição recorrente: Edinho foi tesoureiro de campanha, como Delúbio, condenado, como Vaccari, processado; Mercadante é chefe da Casa Civil, como José Dirceu, condenado, preso agora por outro processo; como Palocci, Erenice, Gleisi. Ambos são delatados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, UTC, por receber recursos ilegais. Pessoa diz que o dinheiro foi para as campanhas de Lula em 2006 e Dilma em 2010.

2 – O Tribunal de Contas envia em breve ao Congresso o relatório sobre as contas do Governo Dilma; é provável que recomende a rejeição (o que pode levar ao impeachment). O TSE pede investigações sobre as contas de campanha de Dilma (o que pode levar à anulação de sua chapa e à cassação do mandato).

3 – O juiz Sérgio Moro pede hoje ao Senado a aprovação de projeto de lei que permite a prisão de réus de certo tipo de crimes, tão logo condenados em segunda instância (podem recorrer, mas presos. Hoje, podem recorrer em liberdade). Entre os crimes previstos, há corrupção, peculato, lavagem de dinheiro – em resumo, Lava Jato. O projeto é votado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em caráter terminativo. Não precisa ser aprovado pelo plenário.

Luz no túnel

Se todas essas manobras derem certo, o Governo estará em risco mortal: de cassação (por irregularidades na campanha eleitoral), de impeachment (por prestação irregular de contas), de desmoralização (por abrigar beneficiários de propina); e de ter importantes líderes presos por roubalheira ou crimes parecidos.

Mas há uma luz no fim do túnel: no Senado, 40% dos parlamentares são oficialmente suspeitos de participação em crimes. Votarão a medida que poderá colocá-los na cadeia antes que se encerre toda a escalada de recursos? Na Câmara a situação é semelhante: 130 dos 513 deputados (mais de um quarto) respondem a inquéritos ou ações penais no Supremo Tribunal Federal. Vão resistir ao aumento da possibilidade de ir para a cadeia por botar a mão no nosso dinheiro.

Curiosidade: um dos patrocinadores do projeto que antecipa prisões é o senador tucano Aloysio Nunes, de São Paulo. Ele é investigado pelo Supremo.

Nau sem lastro

Enquanto os problemas se avolumam e o comando do PT se preocupa com bonecos infláveis e discussões gastronômicas (coxinhas, foie-gras, empadinhas), o partido se desidrata. Por enquanto, 263 petistas eleitos trocaram de legenda.

E as investigações que levam a Lava Jato aos porões do Planalto mal começaram.

Então, tá

O ministro Joaquim Levy diz que provavelmente será preciso criar um imposto provisório para “a travessia”, um imposto que funcione como ponte para o momento em que as despesas do Governo estiverem equacionadas e, com o fim da crise, a arrecadação dos demais impostos esteja em alta. Depois seria retirado.

O ministro Levy é inteligentíssimo e dono de amplos conhecimentos: formou-se engenheiro naval, fez mestrado na FGV, doutorou-se em Economia em Chicago. Mas, se não temos seus conhecimentos, temos boa memória: o IOF foi criado como imposto provisório, regulatório – com o objetivo de encarecer eventualmente determinadas operações que, do ponto de vista do Governo, devessem ser reduzidas. Foi criado em 1966, sobrevive até hoje e virou imposto comum, com a função de arrecadar mais dinheiro para o Tesouro. A CPMF, Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, foi criada em 1993 (e, como dizia o nome, não deveria ser permanente). Seu prazo previsto de duração era de um ano. Mas foi dificílimo derrubá-la, o que só aconteceu catorze anos depois. A CPMF resistiu, embora mudando de nome (e de alíquota – sempre subindo), a quatro mandatos presidenciais.

Joaquim Levy sabe muito, mas ignora que nada é tão permanente quanto um imposto provisório. Ou, pior ainda, não ignora, não.

Sonho realizado

O ano de 1989 foi triste para Dilma Rousseff: seus ídolos Lula e Brizola perderam as eleições presidenciais – e justo para Fernando Collor, por quem não nutria qualquer afeto (ainda estavam longe os tempos em que se aliaria a ele). O Muro de Berlim caiu; o bloco soviético iniciou seu rápido processo de dissolução.

Pois não é que Dilma conseguiu ressuscitar o Muro? Não tinha a extensão nem os recursos de engenharia do Muro de Berlim, mas o Muro de Brasília, de ferro e aço, desempenhou a mesma função de manter o povo num lugar distante.

Imprensa estranha

Deu no jornal. Em 7 de setembro, comentando o Pixuleco, o boneco inflável de Lula com roupa de presidiário, informou que seu peso era de 100 kg, vazio, e 300 kg, cheio. E disse que sua idade era de menos de um mês: “Ficou pronto no final de julho”.

Se ficou pronto no final de julho, em 7 de setembro tinha mais de um mês. E, se vazio tinha cem quilos e cheio 300, que ar mais pesado era esse?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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