Dilma busca apoio para barrar impeachment; Planalto conta com o apoio de apenas 200 deputados

dilma_rousseff_561 (reuters)Bomba-relógio – O Palácio do Planalto passou os últimos dias contando os votos que tem no Congresso Nacional para tentar barrar a tramitação de um possível processo de impeachment de Dilma Rousseff, mas a situação piora com o passar do tempo, especialmente porque o “pacote de maldades” do governo é uma obra de ficção da pior qualidade. Agora, a maior preocupação dos palacianos é com a deterioração do relacionamento com o vice-presidente Michel Temer, que comanda o PMDB, e com a bancada do partido no Parlamento.

Na última segunda-feira (14), a presidente da República conversou mais de uma vez, por telefone, com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, cujo nome vem sendo alvo de críticas duras e ácidas entre magistrados de todo o País. Na noite do mesmo dia, a petista reuniu para um jantar dezenove governadores da base aliada, no Palácio da Alvorada.

O encontro foi para pedir apoio às medidas de austeridade fiscal, com corte de R$ 26 bilhões (aqui está a ficção), congelamento de salários do funcionalismo e reedição da CPMF. Na ocasião, o governo tentou passar a imagem de que está reagindo à crise. Porém, a petista aguarda o respaldo dos governadores contra a tentativa de derrubá-la.

O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o assessor especial da Presidência, Giles Azevedo, têm mantido conversas reservadas com deputados, senadores, empresários, governadores e também advogados, mas o cenário continua desanimador para a chefe do Executivo federal. Antes do anúncio da nova tesourada no Orçamento, na segunda-feira, Mercadante fez outro mapeamento dos votos com os quais o governo pode contar na Câmara e no Senado.

A situação mais difícil é na Câmara dos Deputados, onde o governo tem perto de 200 dos 513 votos, muito pouco diante do mínimo necessário para frear eventual pedido de afastamento de Dilma. De acordo com o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o lobista de empreiteira, e da cúpula do PT, Dilma perdeu sua base social ao endurecer o ajuste fiscal e corre o risco de ter o mandato encurtado.

O roteiro discutido por deputados de oposição (PSDB, Democratas, Solidariedade e PPS) e por dissidentes da base aliada, entre os quais o PMDB, prevê que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, rejeitará qualquer pedido de impeachment. Depois disso, porém, um deputado deverá apresentar recurso ao plenário da Casa. A votação, neste caso, é por maioria simples. O governo não tem, até agora, nem mesmo esse apoio.

Para piorar a situação, PMDB e PT estão em pé de guerra e uma rede de intrigas alimenta a crise política. Não são poucos os petistas que lembram, nos bastidores, que a Operação Lava-Jato atingirá Temer e a cúpula do PMDB, envolvendo Renan Calheiros, presidente do Senado, e os senadores Romero Jucá e Valdir Raupp, além de Eduardo Cunha, já denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e lavagem de dinheiro.

Michel Temer está em Moscou com cinco ministros do PMDB. Na terça-feira (15), Kátia Abreu (PMDB), titular da Agricultura, e Jaques Wagner (PT), da Defesa, deveriam se juntar à comitiva oficial, mas a presidente pediu para que eles ficassem no Brasil, visto que ambos precisam ajudar o governo a aprovar, no Congresso, o pacote que prevê corte de gastos e a reedição da malfada CPMF.

A assessoria de Kátia Abreu, que em 2007 foi relatora do projeto que extinguiu a CPMF, informou que a ministra torceu o pé. Contudo, em conversas reservadas, auxiliares de Dilma admitiram não ser conveniente que ministros mais próximos da presidente integrassem uma viagem “do PMDB”.

A grande questão que atormenta os brasileiros de bem é saber quando se dará a queda de Dilma Rousseff, que perdeu todas as condições para permanecer no comando do País. A petista tornou-se refém de uma crise múltipla (econômica, institucional, política, ética e de competência), mas insiste em não deixar o poder, possivelmente porque seu temperamento não permite atos de coragem como esse ou, então, porque o Partido dos Trabalhadores exige sua permanência como forma de a legenda não desparecer de vez do complexo cenário político nacional.

O movimento suprapartidário pelo impeachment da presidente Dilma, lançado na última semana no Congresso Nacional sob a liderança de partidos de oposição, continua com forte adesão popular. Até a noite de terça-feira, mais de 911 mil pessoas já haviam assinado a petição eletrônica que solicita o encerramento do mandato da presidente da República. A petição está disponível no site www.proimpeachment.com.br.

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