Missão impossível – Nesta quarta-feira (23), o dólar comercial abriu o mercado de câmbio com movimento de queda, mas, como noticiado anteriormente pelo UCHO.INFO, o alívio durou pouco. Ainda no início das negociações, pressionado pela retomada da cautela com o cenário fiscal e político no Brasil, a moeda norte-americana voltou a subir. No início da tarde, a divisa ianque registrava alta de1,73% e era negociada a R$ 4,12. Na máxima, a moeda bateu os R$ 4,144 (alta de 2,32%). Na véspera, fechou a R$ 4,05, a maior cotação desde a criação do Plano Real, há 21 anos.
Visando conter a alta desenfreada do dólar, o Banco Central anunciou três operações para injetar recursos no mercado. Em uma delas, realizada por volta das 13h, o BC vendeu 4,4 mil contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro), que vencem em 1º de setembro de 2016. O valor da operação, em que o BC vendeu apenas 20% dos contratos ofertados, totalizou US$ 211,4 milhões. As demais ações serão realizadas entre esta quarta e quinta-feira (24).
Logo depois, a Bovespa caía 1,51%, aos 45.567 pontos. Principal índice de ações da Bolsa, o Ibovespa abriu em queda e inverteu o sinal ao longo da manhã, puxado por um movimento de compra das ações da Petrobras. Entretanto, o índice voltou a operar em queda no início da tarde.
No radar dos investidores também está a missão da Fitch Ratings. Em seu segundo dia de reunião com a equipe econômica, em Brasília, a agência de classificação de risco avalia a situação do País. Inclusive há temores de novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
O Congresso Nacional ainda não analisou o veto ao reajuste de até 78% dos salários do Judiciário, o que alimenta a usina de incertezas que corroem o País. A derrubada do veto ao reajuste representaria impacto de R$ 36,2 bilhões nas contas públicas até 2019. A sessão foi interrompida por falta de quórum e não há prazo definido para a retomada dessa votação. No mais, a princípio, o recuo respondeu à manutenção da maioria dos vetos presidenciais pelo Congresso, em sessão que durou cinco horas e terminou na madrugada desta quarta-feira. Foram mantidos 26 dos 32 vetos presidenciais a medidas com forte impacto nas contas públicas, a chamada “pauta-bomba”.
O mercado aproveitou a boa notícia para realizar lucros vendendo moeda estrangeira, após o dólar ter fechado no maior patamar desde 1994. Os ganhos estavam acumulados em 11,03% no mês e em 40,03% no ano.
Influencia, também, os negócios locais o enfraquecimento do dólar frente ao euro e algumas divisas de países emergentes e exportadores de commodities, como o peso chileno e o peso mexicano.
Dados fracos do setor de manufatura da China, neste mês, apoiam especulações no exterior sobre a possibilidade de o Federal Reserve (o banco central norte-americano) adiar o aumento da taxa de juros básico para o próximo ano. Isso ajuda a enfraquecer a moeda estadunidense no exterior.
Na última semana, o Fed (Federal Reserve) optou por manter o juro inalterado, em meio às incertezas causadas pela desaceleração da economia chinesa. Nos últimos dias, vários dirigentes regionais das instituições vinham se manifestando em defesa do início da alta ainda em 2015, dando suporte ao dólar e às taxas de juro dos títulos dos EUA. O aumento da taxa teria impacto no câmbio, pois aumentaria a rentabilidade desses títulos, considerados investimentos mais seguros.
Voltando ao cenário nacional, conturbado, é bom lembrar, às 16 horas o dólar comercial estava cotado em R$ 4,1351, valor que mostra a ineficácia da intervenção do Banco Central no mercado de câmbio. A grande questão, que a equipe econômica insiste em não admitir, é que o governo só recuperará a credibilidade, mesmo que em doses rasas, após a saída de Dilma do poder central. Até, o País há de sangrar política e economicamente, o que é péssimo para a população como um todo, pois crises não escolhem classes sociais. (Danielle Cabral Távora e Ucho Haddad)