Reforço no calvário – Mais uma vez o nome do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi citado em uma delação no âmbito da Operação Lava-Jato, que desmontou esquema de corrupção que durante uma década funcionou de forma deliberada na Petrobras.
Ex-gerente da Área Internacional da Petrobras, Eduardo Musa, investigado pela força-tarefa da Lava-Jato, fechou acordo de delação e afirmou que cabia ao peemedebista, como parlamentar, dar a “palavra final” nas decisões da diretoria internacional, à época comandada por Jorge Zelada, outro réu do esquema de corrupção conhecido como Petrolão.
Cunha, já denunciado pela Procuradoria-geral da República, foi acusado pelo lobista Julio Camargo de embolsar US$ 5 milhões em propina no rastro de contratos de locação de navios-sonda pela Petrobras.
Em depoimento embalado por acordo de colaboração premiada, Musa revelou que coube ao lobista João Augusto Henriques, ligado ao PMDB, emplacar Zelada na cúpula da empresa, embora fosse de Cunha a influência direta sobre a gestão da petroleira.
“João Augusto Henriques disse ao declarante que conseguiu emplacar Jorge Luiz Zelada para diretor Internacional da Petrobras com o apoio do PMDB de Minas Gerais, mas que dava a palavra final era o deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB/RJ”, ressalta um trecho da delação premiada do ex-gerente da Petrobras.
Sucessor de Nestor Cerveró na petroleira, Jorge Zelada é réu na Lava-Jato por ter recebido propina para beneficiar a empresa norte-americana Vantage Drilling no contrato de afretamento do navio-sonda Titanium Explorer. Além de Zelada, ainda tornaram-se réus no mesmo processo o ex-diretor geral da área Internacional da estatal, Eduardo Musa, e os lobistas Hamylton Padilha, Raul Schmidt Felippe Junior, João Augusto Rezende Henriques, além do executivo Hsin Chi Su.
De acordo com a acusação do Ministério Público Federal, pelo menos US$ 31 milhões do esquema foram parar nas mãos de Zelada, de Musa e do PMDB, responsável pelo apadrinhamento político do ex-dirigente. No esquema, os lobistas Hamylton Padilha, Raul Schmidt Junior e João Augusto Rezende Henriques atuavam como intermediários da negociação, sendo que cabia a Padilha pagar a parte destinada a Musa. Schmidt era responsável por depositar a propina reservada a Zelada, enquanto Henriques cuidava de fazer o dinheiro sujo chegar ao PMDB.
Segundo o delator, “Henriques ficaria encarregado do pagamento de vantagem indevida pelo apoio recebido do PMDB” e Jorge Zelada foi expressamente citado como beneficiário de propina no esquema. As suspeitas de propina envolvendo a empresa Vantage, base para o oferecimento da denúncia contra Zelada, foram reforçadas pelas revelações do novo delator da Operação Lava-Jato.
Musa declarou aos procuradores da República, em Curitiba, ter recebido US$ 500 mil em propina, em 2009, para ajudar a empresa e que o acerto do dinheiro sujo foi feito com João Augusto Henriques e com o próprio Zelada. O delator afirmou também que o lobista Hamylton Padilha confirmou que “havia um esquema montado para que a Vantage obtivesse o contrato” e que a transação estava sendo organizada por Henriques. Na versão de Musa, “Zelada falou que iria receber propina para a contratação da sonda Vantage”.
Eduardo Musa ainda descreveu ao MPF parte das atividades do lobista João Henriques e afirmou que ele não possuía uma “atividade empresarial produtiva” e atuava essencialmente na intermediação de parte dos negócios com a Petrobras e na intermediação de propina.
Também de acordo com o delator, entre as obras “contaminadas” por dinheiro sujo na Petrobras estavam a refinaria de Pasadena, no Texas, os navios-sonda Petrobras 10000 e Vitoria 10000, e contratos de montagem de módulos para plataformas da Petrobras, com a participação da empresa OSX, do multibilionário Eike Batista, e da empreiteira Mendes Junior. Neste último caso, o acordo previa o pagamento de cerca de R$ 5 milhões em propina para que Henriques fornecesse “informações privilegiadas dentro da Petrobras para orientar a formação de proposta técnica”. (Danielle Cabral Távora)