Em depoimento, J. Hawilla confirma subornos e entrega Ricardo Teixeira e Marin ao FBI

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De acordo com o empresário brasileiro J. Hawilla, para ganhar contratos com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) só é preciso pagar subornos. Dono da Traffic e um dos pivôs do maior escândalo do futebol internacional, Hawilla prestou esclarecimentos à Justiça norte-americana, que publicou a íntegra de seu depoimento na quinta-feira (15).

Às autoridades estadunidenses o empresário entregou a cúpula da CBF e revelou como pagou subornos para fechar contratos por mais de vinte anos. J. Hawilla também acertou um acordo para devolvendo US$ 151 milhões (cerca de R$ 575 milhões) e denunciou os ex-presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e José Maria Marin.

Em sua audiência com um juiz de Nova York, Raymond Dearie, em dezembro de 2014, o dono da Traffic explicou que as propinas eram necessárias para garantir contratos a sua empresa, a Traffic. Ele confessou ser culpado pelas acusações e indicou que o pagamento das propinas começou em 1991. O empresário pediu perdão à Justiça dos EUA. “Eu sabia que essa conduta era errada. Me arrependo muito e peço desculpas pelo que fiz”.

O empresário explicou como teve início a sua relação com os cartolas brasileiros. “Desde 1980 eu desenvolvo meu projeto por meio da minha empresa Traffic. Eu comprei os direitos para eventos de futebol e comecei a promovê-los de uma maneira legítima pelo mundo”, explicou o brasileiro.

Entretanto, uma década depois, o procedimento mudou. “Quando eu fui renovar o contrato para um desses eventos, a Copa América em 1991, um dirigente associado à FIFA e sua federação, Conmebol, me pediu propina para eu assinar o contrato. Eu precisava do contrato por que eu havia assumido compromissos futuros. Apesar de eu não querer, eu concordei em pagar a propina àquele dirigente”.

“Depois disso e até 2013, outros dirigentes do futebol vieram a mim pedir propinas para assinar ou renovar contratos. Eu concordei em pagá-los por contratos de direitos de marketing para vários torneios e outros direitos, como a Copa América, a Copa Ouro, a Copa do Brasil e para o acordo de patrocínio para a seleção brasileira”, relatou Hawilla.

Entre os documentos que levaram à prisão de José Maria Marin, havia uma gravação onde o ex-presidente da CBF afirmava ao empresário que gostaria que o dinheiro da propina da Copa do Brasil fosse para ele. Os contratos de Hawilla com a CBF de agosto de 2012 envolvendo o torneio brasileiro foram entregues ao FBI. Segundo as investigações, Marin e o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, estariam entre os beneficiários do dinheiro.

Pouco antes da conversa, o atual presidente da CBF insistiu com Marin para que ele não conversasse com Hawilla, alertando que o empresário estava sob investigação nos EUA. Marin não deu ouvidos ao seu ex-vice-presidente. Del Nero, porém, não abriu a boca na conversa.

Outro contrato com o envolvimento de Hawilla foi entre a CBF, então comandada por Ricardo Teixeira nos anos 90, e a Nike. Pelo menos US$ 40 milhões em propinas foram repartidas, inclusive para o ex-presidente da CBF.

J. Hawilla ainda confirmou que pagou propinas em relação aos contratos da Copa América. “Os subornos foram pagos a dirigentes com posições de autoridade e de confiança na FIFA, na Concacaf e na Conmebol”.

Nesse caso, uma tabela foi criada para distribuir o pagamento entre os dirigentes sul-americanos. O presidente da CBF ficaria com US$ 3 milhões por cada edição da Copa América. Hawilla, contudo, admite que tentou impedir a investigação, dificultando o acesso a documentos.

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