Seu nome é Bond, James Bond, o agente 007 e gênio do marketing

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“Vodca Martini. Batido, não mexido”. Assim como os carros e as mulheres, essa frase define James Bond. A marca da bebida é indiferente para o agente, mas para a indústria de bebidas, não. Antes, 007 bebia Smirnoff, agora não se sabe quanto a vodca polonesa Belvedere pagou para propagar em seu website: “Excelente escolha, Mr. Bond”.

A marca é apenas uma das patrocinadoras que mantêm parcerias oficiais e pagam milhões para ter espaço no mundo de Bond. Quatorze delas estão listadas na página oficial do novo lançamento da franquia, 007 contra Spectre, que entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (6).

A agência oficial de turismo britânica Visit Britain está lá, portanto não é de admirar que as margens do rio Tâmisa com seus pontos turísticos – o Parlamento com o Big Ben, a London Eye, o prédio do MI6 – estejam claramente à vista no filme.

A marca de cerveja Heineken também consta novamente da lista. O fato de James Bond agora beber cerveja – e, ainda por cima, holandesa – causou rebuliço antes mesmo do lançamento de Operação Skyfall, três anos atrás. Da mesma forma que o crescente consumo geral de álcool por parte do agente.

Aventura ou spot de publicidade de luxo?

O assim chamado product placement não é exclusividade dos filmes de Bond. Em Carga Explosiva, Jason Statham dirige um Audi; Will Smith usa tênis da Converse de forma bem ostensiva em Eu, Robô. Muitos longas mereceriam tranquilamente o predicado “spot de publicidade contínuo”.

Porém a inclusão de produtos nos filmes de Bond recebe há anos atenção especial da mídia e de espectadores. Por quê? Porque o próprio Bond é uma marca. A produção não poupa esforços para tal.

Desde o anúncio do título do filme, dos atores e dos cenários – que mereceu um pequeno show ao vivo –, até o jogo de adivinhação sobre quem será o responsável pela música-tema, passando pelas pequenas e grandes histórias das rodagens. No lançamento mundial, os atores, o diretor Sam Mendes e outros membros da equipe como o coordenador dos dublês, Gary Powell, enfrentaram uma semana de maratona de entrevistas e promoção. Enfim: tudo é feito para que Spectrenão saia das manchetes.

Esse o filme mais caro já realizado pela franquia Bond. “Ganhamos muito dinheiro com Operação Skyfall”, confessou o protagonista Daniel Craig com franqueza à emissora BBC. Para fazer Spectre ainda melhor, ele teria que ser tão “grande e glamoroso quanto possível”. Skyfall arrecadou 1,1 bilhão de dólares ao redor do mundo – com 200 milhões dólares de custos de produção, dos quais mais de 45 milhões teriam vindo de patrocinadores.

Desta vez, Craig também participou da produção, e logo se entende por que: após uma semana nos cinemas americanos, Spectre superou com facilidade seu antecessor, em termos de bilheteria. Segundo o site Box Office Mojo, já foram arrecadados mais de 80 milhões de dólares, apenas nos Estados Unidos.

Privilégio para eleitos

Os patrocinadores acham isso tudo ótimo, claro. E convidam para eventos de gala, anunciam produtos próprios com a marca Bond, ou, no mínimo, usam como trilha sonora o indefectível tema de 007, do compositor Monty Norman.

A aparição de produtos nos filmes pode ser tachada de publicidade oculta, mas quem investe na franquia 007 também quer que todo o mundo perceba sua marca. Por exemplo: o fato de que Bond agora traz no pulso um relógio Omega, e não mais um Rolex – como fora devidamente enfatizado em Casino Royale.

Além disso, poder anunciar nos filmes de James Bond é algo muito especial, comentou recentemente Jacques de Cock, da London School of Marketing, à revista online International Business Times: a produtora Barbara Broccoli “é muito cuidadosa em organizar os tipos certos de marcas”.

Toma lá, dá cá

É difícil dizer se o negócio é bom para os eleitos: os investidores guardam sigilo absoluto sobre quanto lhes custa o privilégio de participar. Como no caso da Jaguar: o modelo C-X75, em que o vilão Hinx persegue o agente pela noite de Roma, não é fabricado em série, e no set de filmagem havia sete deles. Também os modelos Land Rover que atravessam os Alpes austríacos a toda velocidade foram fornecidos em quantidade pela montadora.

A fabricante britânica de automóveis esportivos Aston Martin é também muito orgulhosa de há mais de cinco décadas fornecer o carro oficial de Bond. O DB-10 foi desenvolvido e fabricado especialmente para Spectre, e o diretor Mendes o encena com a ênfase condizente – inclusive quando o veículo não sobrevive à raiva do cientista Q.

Calcula-se que só o valor de todos os carros utilizados em Spectre ultrapasse os 36 milhões de dólares. Os fabricantes certamente não permitiriam essa orgia de destruição, se não partissem do princípio de que vai valer a apena. (Com DPA e BRV)

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