Cada vez mais preocupado com a possibilidade de ser preso em viagens internacionais por causa dos escândalos de corrupção na seara do futebol planetário, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, renunciou nesta quinta-feira (26) ao cargo de membro do Comitê Executivo da FIFA. O cartola brasileiro entregou carta de desistência durante a reunião de cúpula da Conmebol na sede da CBF, no Rio de Janeiro.
“O sr. Marco Polo Del Nero pediu para deixar o Comitê Executivo da FIFA como representante da Conmebol e ele recomendou o sr. Fernando Sarney como seu substituto, que foi aprovado por unanimidade”, afirmou a Conmebol por meio de nota.
Fernando Sarney (foto em destaque na home) é filho do ex-presidente e ex-senador José Sarney, cujo currículo fala por si, já vinha substituindo Del Nero em eventos oficiais da entidade máxima do futebol.
A efetivação de Fernando Sarney no cargo só será confirmada no início de dezembro, durante reunião do Comitê Executivo da FIFA, na cidade suíça de Zurique. Até lá será avaliada a ficha de Sarney, já que a entidade está evitando dirigentes que tenham problemas na Justiça, depois dos escândalos que têm chacoalhado o mundo da bola.
Marco Polo Del Nero não participava de nenhuma reunião do Comitê Executivo da FIFA desde maio, quando a polícia da Suíça invadiu um hotel em Zurique e prendeu sete dirigentes da entidade, horas antes de reunião que confirmou a reeleição do suíço Joseph Sepp Blatter.
O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, foi um dos detidos, e Del Nero retornou ao Brasil imediatamente após as prisões. Desde então, ele não mais ultrapassou as fronteiras verde-louras.
Em breve texto publicado em seu site, a CBF confirmou a renúncia e explicou a decisão de Del Nero. “Del Nero permanecerá com a sua cadeira no Comitê Executivo da Conmebol e, neste momento, optou por dar atenção integral aos debates e temas do futebol brasileiro”, destaca a nota.
Operação Faktor
Às vésperas das eleições de 2006, o COAF identificou movimentações atípicas em contas bancárias ligadas ao empresário maranhense Fernando Sarney. As investigações da Polícia Federal desvendaram um esquema criminoso que agia desde 1992, “com poder político e econômico considerável, apto a corromper estruturas do Estado”. A Operação Boi Barrica, posteriormente batizada como Faktor, teve seu nome inspirado num grupo folclórico maranhense, uma das principais atrações do Marafolia, carnaval fora de época de São Luís, promovido pelo Grupo Mirante de Comunicação, da família Sarney. Incomodado com a homonímia policial, o grupo comandado pelo caudilho José Sarney acionou a Justiça que determinou, em julho de 2009, que a Polícia Federal não usasse o nome do grupo.
Em 28 de setembro de 2009, o Ministério Público Federal do Maranhão pediu a prisão temporária de Fernando Sarney e outras 15 pessoas por crimes contra o sistema financeiro nacional, contra a administração pública, falsidade ideológica, fraude em licitação, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Fernando sacou do bolso um salvo-conduto preventivo e apresentou-o ao juiz da 1ª Vara Federal do Maranhão, permanecendo em liberdade.
No rastro do poderio que José Sarney ainda detém na seara política, como um todo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em setembro de 2011, anulou as provas colhidas pela PF durante a Operação Faktor. As provas anuladas foram quebras de sigilo fiscal, telefônico e bancário.
De acordo com o advogado Eduardo Ferrão, que defendeu a família Sarney no intricado caso policial, a decisão que anulou as provas “em momento algum implica em impunidade”. “O tribunal anulou as provas, mas deixou claro que as investigações devem prosseguir. (…) Os investigados têm maior interesse que as apurações continuem”, disse Ferrão.