Nós sempre teremos Paris

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10Numa das cenas finais do filme Casablanca, quando decide acompanhar o marido, deixando o homem que ama, a triste (e linda) Ingrid Bergman ouve do desconsolado (e abandonado) Humphrey Bogart: “Nós sempre teremos Paris”.

Nossa presidente concorda: também ela sempre tem Paris. Nas vésperas dos dias em que Eduardo Cunha deve decidir sobre o início do processo de impeachment, em que ele mesmo, Cunha, deve ser mandado ao Conselho de Ética para eventual cassação de mandato, em que a agência de avaliação de risco Standard & Poors desembarca em Brasília (se rebaixar o país, os grandes fundos internacionais não poderão aqui investir), em que o procurador-geral Rodrigo Janot pode denunciar os quatro presos da última leva, incluindo André Esteves e Delcídio, Dilma resolveu tirar uns dias de folga em Paris, para voltar em cima da hora. A Conferência do Clima começaria na segunda, mas ela viajou na sexta, que ninguém é de ferro. E mergulhou em Paris no melhor estilo: no Hotel Bristol (aquele de Meia-Noite em Paris, de Woody Allen), luxuosíssimo, caríssimo – a suíte presidencial custa R$ 65 mil por dia, mais taxas de serviço e café da manhã.

Mas que significa essa diária (mais as diárias da imensa comitiva de Sua Excelência), diante das instalações magníficas, dos dois belos gatos de estimação do hotel, os antipaticíssimos Kléopatre e Faraon, da inigualável vista de Paris? Orgulhe-se do hotel em que fica sua presidente em http://wp.me/pO798-980. E lembre-se: a comitiva presidencial fica lá de graça. Quem paga a conta é você.

O nome do terror

André Esteves? Se falar, é dinamite; sabe muito, banqueiro que é, e sempre próximo a quem estiver no poder. Delcídio do Amaral? Se falar, é uma bomba atômica: líder do Governo Dilma no Senado, interlocutor constante do ex-presidente Lula, antigo diretor da Petrobras, antigo ministro de Minas e Energia, amigo de Nestor Cerveró desde quando ninguém o conhecia, o que Delcídio não sabe é o que não vale a pena saber.

Mas quem desperta maior temor em Brasília é um personagem ainda misterioso, ligadíssimo aos negócios oficiais na África: Hamylton Pinheiro Padilha Junior. Hamylton Padilha foi preso, decidiu-se pela delação premiada, está solto. Os negócios brasileiros na África, os privados e os governamentais, passaram por ele. O que disser pode detonar muita gente que se julga ainda inatingível. Hamylton é O Homem Bomba da conexão Brasil-África, reveladora reportagem de Cláudio Tognolli, em http://wp.me/p6GVg3-ia.

O pai de todos

Nahum Sirotsky, um dos maiores jornalistas do Brasil, morreu aos 89 anos, no dia 28. Ou não morreu: criou a lendária revista Senhor, com Bea Feitler, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Millôr Fernandes, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Carlos Scliar – todos notáveis. Quando dirigiu Visão, criou o prêmio Homem de Visão, a ser concedido por um júri independente. Transformou Manchete na rival da maior revista brasileira da época, O Cruzeiro. Esteve na histórica reunião da ONU que criou o Estado de Israel.

Por ele passaram novatos que se transformaram em grandes jornalistas – Alberto Dines, por exemplo, ou Paulo Francis, que o sucederia no comando de Senhor. Foi correspondente de guerra, assessorou embaixadores como Roberto Campos, tinha fontes excelentes em Israel e nos países árabes.

Não, Nahum não morreu.

Bilhetes fechados

A mega-sena de R$ 200 milhões deixou muita gente inquieta: a Caixa inicialmente anunciou que ninguém tinha acertado, pouco depois anunciou que um único apostador de Brasília tinha ganho o prêmio. Nome do felizardo?

Sigilo: a Caixa não divulga os ganhadores, sob o argumento de que se transformariam em alvo de bandidos. Mas isso causa suspeitas: o senador Álvaro Dias, do PSDB paranaense, diz que sabe de pessoas que foram premiadas “mais de 500 vezes” nas loterias da Caixa; e que um apostador ganhou mais de 240 vezes em um mês. Álvaro Dias apresentou projeto que prevê um banco de dados de ganhadores.

A sabugosa mandioca

Há pouco menos de 200 anos, o cientista francês Jean-François Champollion realizou uma tarefa monumental: decifrou os hieróglifos, permitindo o estudo da história do antigo Egito. Nos últimos cinco anos, o jornalista brasileiro Celso Arnaldo Araújo vem exercendo tarefa não menos monumental: decifrar os discursos da presidente Dilma Rousseff – que vão da comunhão entre a mandioca às relações entre o programa Minha Casa, Minha Vida e as chuvas em Catanduva. O livro de Araújo, Dilmês – o idioma da Mulher Sapiens, já está nas livrarias, a R$ 35.

Natal sem Dilma, talvez; mas não sem o livro sobre o idioma de Dilma.

O segredo do crescimento

O Partido da Mulher Brasileira, recém-criado, já conta com 20 deputados federais (18 homens, duas mulheres). Qual é seu segredo? Simples: os parlamentares que entram agora são encarregados de organizar o partido em seus Estados. E o PMB promete metade das verbas do Fundo Partidário para que Sua Excelência possa trabalhar. Há partidos que dão aos Estados apenas 5% do Fundo.

A propósito, o caro leitor já sabe de onde saem os recursos do Fundo Partidário, não é?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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