Vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer enviou, na segunda-feira (7), carta à petista Dilma Rousseff em que relata uma série de episódios que demonstra de forma inequívoca a “absoluta desconfiança” que sempre existiu em relação a ele e ao partido por parte da chefe do Executivo federal.
O texto, que começa com a expressão “Verba volant, scripta manent” – em latim significa “As palavras voam, os escritos permanecem” – acirra ainda mais a crise política atual e coloca a presidente Dilma mais próxima do impeachment, cujo pedido será decidido por comissão processante a ser definida nesta terça-feira (8). Na opinião dos assessores palacianos, a tal carta é mais um passo decisivo de Temer na direção do rompimento com o governo. Ou seja, os apelos públicos de Dilma, que se humilhou diante de câmeras e microfones, resultaram em nada.
Em onze pontos, o vice disseca o desgaste da relação entre ambos desde 2011, mas para o UCHO.INFO essa zona de atrito existe desde a pré-campanha de 2010. Temer alega na carta que passou os quatro primeiros anos do governo como “vice decorativo” e que perdeu todo o seu protagonismo político do passado para afiançar o projeto de Dilma, sendo convocado apenas para resolver votações do PMDB e debelar crises políticas. “Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB”, escreveu o peemedebista.
Em conversas reservadas, Temer tem dito que se sentiu traído por Dilma, como afirmou este portal em diversas ocasiões. O presidente do PMDB afirma na missiva que o pedido de impeachment tem, sim, lastro jurídico, embora o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, tenha comentado, em entrevista, que o vice dissera algo contrário. “Não é de hoje que tentam me constranger”, afirmou. “A carta que escrevi foi em caráter reservado, não era para ser divulgada.”
Responsável pela Advocacia-Geral da União, o ministro Luís Inácio Adams, petista visceral, telefonou, tentou falar com Temer, sem sucesso, após a revelação do conteúdo da carta.
Na carta, de três páginas, Michel Temer afirma que sempre esteve à disposição de Dilma e trabalhou para que o PMDB apoiasse a sua reeleição, apesar das fortes resistências no partido. O vice lembrou que a legenda só se manteve na chapa porque ele liderou o movimento pró-Dilma na convenção. Mesmo assim, destacou, recebeu como contrapartida o “menosprezo” da presidente.
“Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo do governo”, escreveu Temer.
Confirmando as matérias deste noticioso, Michel ressaltou que discorda da decisão de Dilma de ter escolhido o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), como interlocutor e responsável por indicar os nomes dos parlamentares que integrarão a comissão processante, a ser instalada nas próximas horas. O vice aproveitou a oportunidade para outra reclamação: o fato de Picciani ter indicado dois ministros do governo, sendo que um dos seus apadrinhados foi sacado do primeiro escalão do governo para abrir vaga.
“A senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu vice e presidente do partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado”, diz Temer.
Sobre a alegada confiança que Dilma diz depositar em Temer, o vice desmontou a tese da presidente. “Sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção”, conclui.
Clique e confira a íntegra da carta enviada pro Michel temer à presidente Dilma Rousseff