Argentina: Maurício Macri assume presidência e promete mudança liberal

mauricio_macri_1006

Nesta quinta-feira (10), Mauricio Macri, empresário liberal da direita, tomou posse como novo presidente da Argentina prometendo “novos tempos” após finalizar o ciclo político mais longo da democracia do país liderado pelo casamento centro-esquerdista do casal Néstor e Cristina de Kirchner desde 2003.

Macri fez seu juramento em uma cerimônia sem transição de mandato com a agora ex-presidente Cristina de Kirchner ausente devido a um desacordo de protocolo estabelecido pela Justiça.

“Juro por Deus nosso Senhor e ante os Santos Evangelhos desempenhar com lealdade e honestidade o cargo de presidente da Nação”, discursou Macri diante de Federico Pinedo, presidente provisório do Senado e encarregado pelo Poder Executivo até a hora do juramento.

Em sua primeira fala frente à Assembleia Legislativa, prometeu encaminhar a Argentina rumo ao desenvolvimento, lutar contra a corrupção e buscar “a união de todos os argentinos nestes novos tempos, após anos de confrontos”.

É preciso “reconhecer os problemas para que, juntos, encontremos as soluções”. A política “não é uma competência entre dirigentes para ver quem tem o maior ego”, afirmou.

Ele ainda se comprometeu a dar “total apoio à justiça independente que tem sido uma fortaleza da democracia nestes anos”. “Não haverá juízes macristas”, assegurou.

Maurício Macri foi escoltado por uma guarda de honra de 300 soldados a cavalo, e chegou à sede do Congresso acompanhado de sua esposa, Juliana Awada, em um carro fechado, seguido por centenas de simpatizantes.

“Esperamos por muito tempo. Desde 83, vimos muitas coisas. Estou esperançosa de que as coisas possam ser bem feitas”, disse uma senhora que esperava nos arredores do Congresso enquanto fazia referência ao ano em que a Argentina recuperou a democracia.

Cristina Kirchner, que no dia anterior havia se despedido, em um ato público, de milhares de partidários emocionados, não assistiu à posse, assim como também não o fez o bloco de deputados de seu partido devido a um desacordo sobre a transição da banda e bastão presidencial, que Pinedo fará na sede do governo.

Uma falha judicial inédita pelo desacordo sobre a transição estabeleceu que o mandato de Kirchner terminaria na quarta-feira às 23h59. Logo após, explodiu um carnaval de bandeiras, aplausos e buzinadas nos bairros residenciais de Palermo e Recoleta.

Macri é um empresário milionário de 56 anos, casado três vezes, pai de quatro filhos e ex-presidente do clube de futebol Boca Juniors, e admirado pelo setor financeiro.

Uma dezena de chefes de Estado, entre eles a presidente Dilma que pousou em Buenos Aires enquanto Macri fazia seu juramento, participam de uma jornada protocolar junto à chilena Michelle Bachelet, o equatoriano Rafael Correa, o rei emérito da Espanha Juan Carlos e o bolivariano Evo Morales, com quem jogou uma partida de futebol na quarta-feira.

Macri encontra um país polarizado depois de ter vencido com uma pequena diferença o segundo turno em novembro (51,33% contra 48,66%) contra Daniel Scioli, o candidato da coalizão de esquerda kirchnerista.


Economia

“Nosso trabalho já começou sobre três grandes desafios: pobreza zero, terminar com o narcotráfico e unir os argentinos”, disse nesta quinta-feira Marcos Peña, o novo chefe de gabinete.

A economia está em estagnação há quatro anos, a inflação é de dois dígitos e as reservas não estão em condições de suportar sua promessa de dar um fim às restrições cambiais que regem desde 2011.

Maurício Macri prometeu unificar os tipos de câmbio. O dólar está cotado em 9,75 pesos no mercado oficial, mas ronda os 17,75 no paralelo, termômetro de humor dos mercados.

Mas também denunciou a queda das reservas em torno dos 25 bilhões de dólares e caindo, segundo Banco Central. Para reforçá-las, espera pela entrada de aproximadamente 8 bilhões de dólares em exportações agrárias.

Na frente externa, o novo governo começará a negociar com os fundos “abutres” para resolver o litígio por títulos não pagos da dívida, anunciou um mediador judicial americano do caso, após se reunir em Nova York com um enviado de Macri.

O mercado interno antecipou uma desvalorização com o aumento de preços “preventivos” nos últimos dias do setor industrial dependente de insumos importados.

A falta de estatísticas confiáveis que meçam a inflação, dos 20% anuais segundo a agência estatal e dos 30% de acordo com consultoras, contribui para a dificuldade de preços relativos. Nesse sentido, a normatização estatística será outro desafio.

O poder aquisitivo do salário se manteve por uma lei de negociações entre sindicatos e empresas com reajustes ligados à inflação.

O Congresso será outra dura questão para o novo governo de Macri, visto que, na Câmara dos Deputados, o bloco kirchnerista é a primeira minoria, mas maioria no Senado.

apoio_04