Para Dilma impeachment é golpe, mas presidente tenta emplacar um golpe no PMDB de Michel Temer

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Desde que pedidos de impeachment começaram aterrissar na Câmara dos Deputados, Dilma Rousseff e seus “companheiros” da esquerda nacional começaram a entoar o mantra “não vai ter golpe”, como se o impedimento do presidente da República não fosse um ato devidamente acolhido e pacificado na legislação vigente.

Temendo perder o mandato em breve por causa do eventual (quase certo) avanço do processo de impeachment, Dilma tem se valido de todas as armas para evitar o pior. Enquanto assiste a aliados recorrendo ao Supremo Tribunal Federal para embolar o tema – é o caso do PCdoB –, a presidente tenta engendrar um golpe no PMDB. Depois da derrocada de do deputado federal Leonardo Picciani (RJ), que foi despejado da liderança do PMDB na Câmara, o Palácio do Planalto começou a ingerir nas questões da legenda comandada pelo vice Michel Temer, que por sua vez tomou as providências necessárias para conter o ataque palaciano.

Temer, que não chegou até aqui porque é inocente ou inexperiente, decidiu barrar todas as filiações de novos deputados, manobra criada por Picciani para retomar a liderança do partido e voltar a conspirar a favor de Dilma. Como a estratégia do ex-líder fracassou, Dilma migrou para o Senado, onde ainda conta com o apoio do presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Por enquanto Calheiros ainda tem voz de comando, pelo menos em parte da bancada peemedebista, mas seu reinado está com os dias contados. Isso porque Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras e preso na Operação Lava-Jato, afirmou em delação premiada que pagou propina aos senadores Renan Calheiros, Jader Barbalho e Delcídio Amaral. Ou seja, o aliado de primeira hora do governo enxertou nova confusão em seu currículo político.


Renan decidiu desautorizar Michel Temer depois que deputados foram impedidos de ingressar no PMDB, o que causou verdadeira celeuma na política brasileira, em especial na cúpula peemedebista. Renan Calheiros fez um discurso moralista para atacar o presidente nacional da legenda, mas ignora que é investigado em seis inquéritos da Lava-Jato, além de outro que vasculha o escândalo das vacas sagradas alagoanas, que teriam sido vendidas para custear as despesas da ex-amante do presidente do Senado.

Ademais, a denúncia de Cerveró, feita durante depoimento emoldurado por delação premiada, deve obrigar a força-tarefa da Lava-Jato a abrir nova investigação contra Renan, que ainda há de ser acusado de ter assumido o apadrinhamento político de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, após a morte de José Janene, o “Xeique do Mensalão” e criador do esquema de corrupção batizado como Petrolão.

A estratégia estabelecida por Renan é manter a aliança com Dilma para mais adiante assumir a cena da política tupiniquim caso a presidente da República não seja despejada do cargo. Além disso, causa estranheza a lentidão com que avançam os inquéritos da Lava-Jato que tramitam no STF e que têm Renan Calheiros na proa. Ao contrário dos inquéritos e denúncias contra Eduardo Cunha, os de Renan avançam com irritante lentidão.

Não se trata de afirmar que há algo mais que suspeito nesse imbróglio, mas algo de errado está a acontecer nas investigações sobre as malandragens petroleiras de Renan Calheiros. Ao que tudo indica, considerando a lógica política, Dilma Rousseff e seu “amiguinho” Renan Calheiros em breve protagonizarão o chamado “abraço dos afogados”. Enquanto isso não acontece, a presidente insistem em afirmar que impeachment é golpe e tenta aplicar um golpe em Michel Temer. Mas é bom lembrar que na política todos se merecem.