Família Picciani é sócia de dono de cervejaria que financiou campanha de Dilma Rousseff

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O Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, foi um grande doador de campanhas nas eleições do ano passado. No total, foram destinando R$ 57,2 milhões a partidos e candidatos, sendo que metade deste valor foi para o PMDB do Rio de Janeiro (R$ 11 milhões) e para campanha da presidente Dilma Rousseff (R$ 17,5 milhões), sendo quarta maior contribuição recebida pela petista.

Desde 2011, o PMDB fluminense está sob o comando do presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, pai de Leonardo Picciani. O jovem Picciani tornou-se líder do partido na Câmara e, em dezembro, foi destituído e reconduzido ao cargo dias depois.

Nos últimos meses, os deputados Picciani tentam ajudar Dilma no processo de impeachment, articulando uma base de apoio à presidente no PMDB. Foram recompensados com dois ministérios e prestígio junto à chefe do Executivo federal.

Além de políticos influentes, os Picciani são empresários em ascensão. A família possui uma pedreira no Rio de Janeiro – a Tamoio Mineração S.A. – avaliada em R$ 70 milhões. Em setembro de 2012, os Picciani compraram parte das ações de um empresário que morrera mais de um ano antes, em abril de 2011. Um mês depois de adquirir a pedreira, a família se associou ao empresário Walter Faria, dono da Cervejaria Petrópolis, responsável pelas generosas contribuições na campanha de 2014.

Na lista da revista Forbes, Walter Faria aparece como 11º homem mais rico do Brasil, dono de uma fortuna estimada em US$ 3,4 bilhões e poderoso investidor do ramo de bebidas.

Por outro lado, Faria tem um histórico de problemas com a Receita Federal e chegou a ser preso em 2005, acusado de sonegação fiscal. O dono da Itaipava entrou na sociedade da mineradora por meio de sua empresa, a GP Participações e Empreendimentos S.A., que comprou 20% da pedreira dos Picciani e de Carlos da Costa Pereira, o Carlinhos da Artsul, outro acionista. A família Picciani mantém suas ações em nome da Agrobilara Comércio e Participações.

Jorge Picciani não vê problemas em manter sociedade com um grande doador do PMDB. “Não há conflito com a esfera do interesse público. Eles [da cervejaria] jamais contribuíram para as minhas campanhas ou de meus filhos, nem direta nem indiretamente”, afirmou o deputado, referindo-se ao fato de o dinheiro ter sido repassado ao partido. “Meus mandatos na presidência da Assembleia são exercidos com absoluta transparência, e o diálogo com as empresas não ocorre de maneira individual”, disse, em nota.


Walter Faria entrou na sociedade depois que Picciani fez o negócio com o homem morto. A assessoria do Grupo Petrópolis afirma que “a GP Investimentos tomou conhecimento da situação a partir da reportagem”. “A empresa avaliará e verificará as informações e agirá de acordo com as orientações legais cabíveis”. O Grupo Petrópolis afirmou ainda que “doou, de maneira legal e registrada na Justiça eleitoral, para diversos partidos políticos, candidatos e comitês regionais, em todo o Brasil”.

O Grupo Petrópolis obteve um empréstimo de quase R$ 830 milhões em condições generosas do Banco do Nordeste. Duas semanas depois de selar a transação com o banco público, o grupo de Faria aportou os R$ 17,5 milhões na campanha de Dilma Rousseff.

Dono da segunda maior cervejaria do país, o Grupo Petrópolis possui seis fábricas: duas na Região Serrana do Rio de Janeiro e as demais em São Paulo, Mato Grosso, Bahia e Pernambuco. As duas últimas foram construídas com o financiamento do Banco do Nordeste que é alvo de investigação do Ministério Público Federal.

Walter Faria e a família Picciani mantêm relações muito próximas. Picciani participou da festa de inauguração da fábrica na Bahia, e a Itaipava foi patrocinador de destaque do 13º Leilão Cidade Maravilhosa, de gado nelore, promovido pelo deputado. O evento, realizado em março em um hotel de luxo em Mangaratiba, Litoral Sul fluminense, teve transmissão ao vivo pelo Canal Rural. A marca da cervejaria estampava o microfone do leiloeiro no evento, que arrecadou R$ 3,6 milhões, com a venda de 63 lotes de animais de raça.

Picciani também pega caronas no helicóptero do amigo no Rio. Mas suas relações societárias com Faria sempre foram desconhecidas, até de políticos mais próximos. O grupo Petrópolis informou que as decisões sobre patrocínios a eventos “são sempre tomadas em caráter técnico, visando ao fortalecimento das marcas”.

A mineradora de Picciani e Walter Faria informa em seu site que fornece brita para obras das Olimpíadas. A mineradora não mantém contratos diretamente com a Prefeitura do Rio nem com o governo do Estado, ambos governados pelo PMDB, mas entrega o material a empreiteiras contratadas para obras públicas pelos dois entes. Faria entrou na sociedade em um momento de prosperidade, no fim de 2012. Com o Brasil em crescimento e às vésperas da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, a cidade era um canteiro de obras públicas de infraestrutura, e a construção civil prosperava.

Desde a aquisição da Tamoio por Picciani, Carlinhos da Artsul e Walter Faria, a empresa recebeu enormes investimentos e multiplicou por cinco a produção. Em 2013, após a entrada de Walter Faria, teve início o ambicioso plano de investimentos, que envolveu a importação da Alemanha, por 10 milhões de euros, de uma sofisticada planta móvel de britagem e peneiramento, com capacidade de 900 toneladas por hora. A mineradora se louva, em seu site, da “maior planta móvel do planeta”.

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