Pesquisa sugere um canto da Via Láctea como melhor opção para buscar vida fora da Terra

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Segundo pesquisa apresentada no encontro da Sociedade de Astronomia norte-americana, aglomerados antigos e repletos de estrelas encontrados em um canto da Via Láctea são uma excelente opção na busca por vida extraterrestre inteligente (Seti, na sigla em inglês).

Devido à abundância de estrelas, esses “aglomerados globulares” sempre foram um dos preferidos do campo. Porém, tentativas recentes de esmiuçar o espaço em busca de planetas orbitando estrelas não tiveram sucesso em aglomerados globulares.

Entretanto, agora, dois astrônomos dizem que há bons motivos para continuar a busca. Rosanne Di Stefano, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, nos Estados Unidos, e Alak Ray, do Instituto de Pesquisa Fundamental, na Índia, descreveram o que chamaram de “oportunidade do aglomerado globular”.

Com uma idade média de 10 bilhões de anos (muito superior à do Sol, com 4 bilhões), aglomerados globulares não têm muitas estrelas jovens, ricas em elementos metálicos necessários para fazer planetas.

Durante participação no 227º encontro da Sociedade de Astronomia norte-americana, Di Stefano revelou que pesquisas recentes haviam descoberto exoplanetas (planetas que orbitam outras estrelas que não o Sol) – especialmente os pequenos e rochosos, parecidos à Terra – em torno de estrelas muito menos ricas em metal que nosso Sol.

“Quando as pesquisas sobre vida alienígena começaram, nos anos 1950 e 1960, ainda nem sabíamos se havia exoplanetas”, ressaltou a astrônoma. “Agora podemos usar a informação que reunimos de outras descobertas de planetas – e há mais de 2 mil planetas conhecidos hoje – para perguntar se é provável que eles estejam em aglomerados globulares”, disse.

Di Stefano usou o exemplo do PSR B1620-26 b, às vezes chamada de “Methuselah”. É o único exoplaneta identificado até o momento que orbita uma estrela – ou, no caso, duas – em um aglomerado globular.

“Acho que a maior parte de nós diria que a descoberta desse planeta indica que deve haver outros planetas naquele aglomerado”, afirmou.

Além disso, Di Stefano e Ray identificaram um “ponto ideal” nas dimensões de aglomerados globulares. Como a maioria das estrelas são velhas, anãs vermelhas e frias, qualquer planeta habitável teria que orbitar muito perto delas para manter água líquida.


Porém, se manter molhado não é o único desafio para um planeta em que a vida seja viável em um aglomerado globular. Uma bola com um milhão de estrelas a apenas 100 anos-luz de distância é um forte tumulto de forças gravitacionais que poderiam desintegrar o Sistema Solar.

Mas, conforme Di Stefano, há uma região nesses aglomerados onde as estrelas não estão tão grudadas a ponto de planetas rochosos e pequenos serem arrancados de suas estrelas – porém que, apesar disso, as estrelas estão perto o suficiente para que uma civilização alienígena possa conseguir ir de uma estrela para outra. “Nessa grande região (…) sistemas planetários podem sobreviver, e ela ainda é densa o suficiente para facilitar viagens interestelares”.

Ela acrescentou que esses planetas – se existirem – podem durar até mais do que a idade atual do Universo, deixando tempo suficiente para que florescessem vida inteligente e uma ambição interestelar.

Outros pesquisadores na conferência concordaram que essas são observações interessantes, mesmo se a noção de civilizações antigas saltando de estrela em estrela tenha sido, obviamente, uma especulação provocativa.

“(A tese) se sustenta”, disse Jessie Christiansen, do Instituto Científico de Exoplanetas da Nasa, na Universidade Caltech. “É muito especulativa, mas eu gosto da ideia de que como aglomerados globulares são antigos, eles tiveram mais tempo”.

“Formas de vida simples e unicelulares podem se desenvolver rápido, mas formas de vida complexas – isso para não falar de vida inteligente – parece levar muito tempo”, acrescentou, citando a história natural da Terra como um exemplo limitado. “Então talvez sejam necessários dezenas de bilhões de anos”.

Alan Penny, astrônomo da Universidade de St. Andrews, na Escócia, e coordenador da rede de pesquisas sobre vida inteligente alienígena do Reino Unido, afirmou acreditar que a pesquisa “dá esperanças sobre os aglomerados globulares, na busca por alvos onde procurar”. “Mas eles continuam sendo alvos muito difíceis”, acrescentou.

“Eles ainda estão muito, muito longe. O aglomerado globular mais próximo está a milhares de anos-luz”, finalizou.

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