Ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, em documentação entregue à Procuradoria-Geral da República, antes de fechar acordo de delação premiada, afirmou que a campanha do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, em 2006, recebeu R$ 50 milhões em propina.
De acordo com informações, o delator revelou que o dinheiro teria saído de uma negociação para a compra de US$ 300 milhões em blocos de petróleo na África, em 2005.
O ex-diretor da Petrobras atribui a informação a Manuel Domingos Vicente, que presidiu o Conselho de Administração da Sonangol, estatal petrolífera angolana. “Manoel (sic) Vicente foi explícito em afirmar que desses US$ 300 milhões pagos pela Petrobrás a Sonangol, companhia estatal de petróleo de Angola, retornaram ao Brasil como propina para financiamento da campanha presidencial do PT valores entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões”.
Conforme o delator, que teve seu acordo firmado em novembro de 2015, a negociação foi conduzida “pelos altos escalões do governo brasileiro e angolano, sendo o representante brasileiro o ministro da Fazenda [Antonio] Palocci”.
Cerveró foi diretor da Petrobras entre 2003 e 2008 e, após ser exonerado do cargo, assumiu a Diretoria Financeira da BR Distribuidora, subsidiária da estatal, onde ficou até 2014, por cerca de 6 anos.
O delator afirmou no documento que soube da propina por meio de Manuel Vicente. Atualmente, Domingos Vicente é vice-presidente de Angola. “Nestor tinha uma relação de amizade com o Dr. Manoel (sic) Vicente (presidente da Sonangol), que em conversas mencionou textualmente a frase “Porque nós somos homens do partido! Temos que atender as determinações do partido!”, destaca o documento.
Nestor Cerveró contou ainda que a costa angolana era conhecida pela capacidade de exploração de petróleo. Entretanto, o delator não dá detalhes, nestes papeis, sobre a negociação da propina ou como o dinheiro teria chegado à campanha do PT.
“Em 2005, houve uma oferta internacional de Angola, de venda de blocos de exploração em águas profundas, como se fosse um grande leilão”, declarou Cerveró. “O país era extremamente interessante para a Petrobrás: tanto pelo regime político do país aliado do governo brasileiro, quanto pelo fato da companhia já operar e ter escritórios desde 1975 em Angola”.