Engenheiro revela ao MP que reforma no triplex que seria do alarife Lula custou R$ 777 mil

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O engenheiro Armando Dagre, sócio-administrador da Talento Construtora, declarou ao Ministério Público de São Paulo que “refez” o triplex 164 A, no Condomínio Solaris, no Guarujá, no litoral de São Paulo.

A Promotoria suspeita que o imóvel pertence ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Segundo o engenheiro, a reforma, contratada pela empreiteira OAS, alvo da Operação Lava Jato, custou R$ 777 mil. Os trabalhos foram realizados entre abril e setembro de 2014.

Lula declarou à Justiça eleitoral em 2006, quando se reelegeu presidente, que possuía uma participação em cooperativa habitacional no valor de R$ 47 mil. A cooperativa é a Bancoop que, com graves problemas de caixa, repassou o empreendimento para a OAS.

A Polícia Federal e a Procuradoria da República suspeitam que a empreiteira pagou propinas a agentes públicos em troca de contratos fraudados na Petrobras. As informações sobre o depoimento de Armando Dagre foram divulgadas no Jornal Nacional, da TV Globo.

As investigações sobre o triplex estão sendo realizadas pelo promotor de Justiça Cássio Conserino, do Ministério Público paulista. O promotor diz ter indícios de que houve tentativa de esconder a identidade do verdadeiro dono do imóvel, o que pode caracterizar crime de lavagem de dinheiro.

Armando Dagre ainda declarou que o contrato com a OAS para reforma do triplex incluiu novo acabamento, além de outra piscina, mudança da escada e instalação de elevador privativo que custou R$ 62,5 mil. Ele disse que não teve nenhum contato com Lula, e sim com a ex-primeira dama, Marisa Letícia.

Ele também revelou que, um dia, estava reunido com o representante da OAS no apartamento ‘quando Marisa adentrou o apartamento com um rapaz e dois senhores’ e que só depois soube que os acompanhantes da mulher de Lula eram um filho do casal, Fábio Luiz, um engenheiro da OAS e o dono da empreiteira, Léo Pinheiro – condenado na Lava Jato a 16 anos de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

“Em verdade tomou um susto quando vislumbrou a dona Marisa Letícia ingressando no meio da reunião existente no interior do apartamento”, disse Armando Dagre.


O engenheiro disse que a ex-primeira dama ‘os cumprimentou’. “Ela estaria conhecendo o apartamento, tendo, inclusive, ressaltado a vista (para o mar)”.

O advogado Aloísio Lacerda Medeiros, constituído pelo sócio da Talento Construtora, confirmou que Armando Dagre estava no apartamento quando Marisa, o filho Fábio e Léo Pinheiro chegaram. Conforme Medeiros, ‘nada foi dito’ sobre a quem pertenceria o imóvel.

A Promotoria tomou também o depoimento do zelador José Afonso Pinheiro, zelador do condomínio desde 2013. Questionado se Lula esteve no prédio, o zelador disse que viu o ex-presidente lá. Segundo ele, Lula chegava normalmente em dois carros com seguranças que ‘prendiam’ o elevador para a família, o que provocava reclamações de outros moradores.

O zelador contou que a OAS ‘limpava o prédio, colocava flores para receber a família do ex-presidente’. Conforme ele, um funcionário da empreiteira lhe pediu que não falasse que o apartamento era de Lula e da mulher, ‘mas da OAS’.

Depois que as investigações sobre o apartamento foram tornadas públicas a família de Lula não retornou ao prédio, segundo Pinheiro.

O advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente, negou taxativamente que o petista ou familiares dele sejam os donos do triplex. Ele relatou que a família comprou uma cota de um projeto da Bancoop. A cota foi paga e declarada ao Imposto de Renda pelo ex-presidente. O advogado disse que ‘não tem a menor ideia’ de quem realizou a reforma no imóvel.

Martins afirmou que o apartamento ‘não é do ex-presidente’. Esclareceu ainda que Lula tinha uma cota do projeto da Bancoop e quando o empreendimento foi transferido para outra empresa tinha duas opções: pedir o resgate da cota ou utiliza-la para compra do imóvel do Solaris. A família fez a opção pelo resgate. A OAS não se manifestou.