Preso na Operação Acarajé, 23ª fase da Operação Lava-Jato, o marqueteiro João Santana usou, em depoimento à Polícia Federal, expressão que embala a falsa inocência de seu principal cliente, o lobista-palestrante Luiz Inácio da Silva. Ao falar sobre a conta bancária no exterior que recebeu US$ 7,5 milhões de uma offshore ligada à Odebrecht, Santana disse que “não sabia” que era precisão declará-la à Receita Federal. Como se um profissional que elege sete presidentes ao redor do planeta fosse tão desavisado quanto o marqueteiro tenta demonstrar.
Juntamente com a mulher e sócia, Mônica Regina Moura, o marqueteiro do PT está preso desde terça-feira (23), quando o casal desembarcou no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, vindo da República Dominicana. Ambos são suspeitos de receber dinheiro ilegal oriundo do maior esquema de corrupção da História, o Petrolão, que durante uma década funcionou de forma deliberada na Petrobras.
Os investigadores afirmam que o dinheiro serviu para pagar serviços de campanha prestados ao Partido dos Trabalhadores, que continua alegando que a contabilidade da legenda está de acordo com o que reza a legislação vigente.
De acordo com o advogado Fábio Toufic, que defende Moura e Santana, a conta bancária foi aberta em 1998 para receber US$ 70 referentes a serviços prestados em campanha eleitorais na Argentina. Ou seja, o que era para ser apenas o “samba do crioulo doido”, agora transformou-se no “tango do portenho aloprado”.
“Na época, ele achou que não tinha problema porque eram recursos recebidos em outro país e, ao longo de uma auditoria recente, ele foi informado que havia essa irregularidade. Ele estava já tomando as medidas, pensando na forma de regularizar esses recursos”, disse o advogado.
Segundo declaração de Toufic, os recursos recebidos no exterior são pagamentos por trabalhos feitos em campanhas eleitorais no Panamá, Angola e Argentina. “Eles não têm absolutamente nada a esconder. Eles já autorizaram, inclusive, que seja aberto todo e qualquer sigilo financeiro e bancário através da polícia”, afirmou o defensor dos marqueteiros.
Insistindo na tese luliana do “não sabia”, João Santana negou conhecer o engenheiro Zwi Skornicki. O advogado explicou: ‘O João nunca viu. Disse que a primeira vez que viu foi aqui na carceragem da Polícia Federal. Não tem nenhum conhecimento com este cidadão”.
Por outro lado, apesar das negativas do investigado, a força-tarefa da Lava-Jato afirma que Skornick era representante do estaleiro Keppel Fels e repassou US$ 4,5 milhões a Santana. Os procuradores da República que trabalham no caso creem que Skornick era destacado um operador no Petrolão, sendo responsável por repasses ao PT por meio do ex-tesoureiro da legenda, partido João Vaccari Neto, também preso em Curitiba.
Questionado sobre os pagamentos feitos por Zwi Skornicki, o advogado afirmou que sua cliente, Mônica Moura, cobrava do Partido Angolano uma suposta dívida de campanha e que foi orientada a procurar o engenheiro.
“Diz que isso é uma doação ao Partido Angolano. Ela não sabe dizer qual a relação que este cidadão teria com o Partido Angolano, provavelmente, algum interesse naquele país, e que era uma dívida antiga”, declarou o advogado.
No depoimento que durou três horas, prestado nesta quinta-feira à PF, João Santana repetiu a cantilena da mulher e negou que os pagamentos realizados por Skornick tenham qualquer relação com serviços publicitários prestados no Brasil. Além disso, afirmou que jamais manteve qualquer contrato com o poder público no Brasil.
Em mais uma zombaria explícita no escopo da Lava-Jato, o advogado Fábio Toufic se escora na tese jurídica do “terceiro de boa fé” e afirma que é difícil saber quem de fato paga uma dívida de campanha. “Você não tem como saber quem está te pagando. Você tem como identificar o valor que foi recebido e saber que o teu cliente quitou a dívida que tinha”.
Essa tese adotada por Toufic pode até encaixar no noticiário, mas pode se transformar em mais um entrave para Santana e Moura, que correm o risco de ter as respectivas prisões temporárias transformadas em preventivas, ou seja, sem prazo. Afinal, o depoimento do casal não convence e deixa um sem fim de brechas para que a investigação seja levada adiante.
Por enquanto, João Santana e Mônica Moura estão desdenhando da capacidade dos investigadores e apostando na impunidade, como se as explicações superassem o cipoal de provas conseguido pela força-tarefa da Lava-Jato. Nesse desencontro emaranhado de declarações pouco confiáveis, alguém do trio – Santana, Moura e Skornick – há de sucumbir ao efeito devastador do cárcere.