(*) Carlos Brickmann
O programa do PMDB na TV deixou claro que o partido não faz parte do Governo, embora tenha seis ministros, embora seu líder na Câmara tenha sido eleito com o decisivo apoio do Palácio. O PT também não tem nada a ver com esse Governo petista: não aceita o ajuste fiscal, nem mudanças na Previdência, ambos pontos essenciais dos planos de Dilma, nem a possibilidade de a Petrobras repassar a outras empresas sua cota de investimentos na exploração do pré-sal, de 30% – embora isso tenha sido acertado entre o Governo e a oposição.
Lula elegeu o Governo mas não tem nada com ele: gostaria de nomear um ministro da Justiça mais eficiente, um ministro da Fazenda capaz de cuidar das finanças, transformando a tempestade em marolinha. Dizem que comenta a toda hora que seus conselhos não são ouvidos. E não gosta de perceber que aquele esforço que o Governo Dilma não pode, por convicções republicanas, fazer em seu favor, é feito para manter Renan Calheiros fora da boca do vulcão.
O dominicano Frei Betto nada tem a ver com o Governo, embora seja petista desde antes da existência do PT. Acha que a política econômica priorizou o Ter, não o Ser, seja lá isso o que for. Rui Falcão, presidente nacional do PT, é contra o impeachment. E também contra tudo que Dilma queira fazer na Presidência. No caso do pré-sal, chamou o acordo de Dilma de “ataque à soberania nacional”.
Está tudo explicado: se ninguém é a favor do Governo, quem governa? Só Dilma é a favor do Governo. Mas não tem a menor ideia do que fazer com ele.
Ele entende
Opinião do respeitado professor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central: “A recessão é resultado de políticas econômicas erradas, adotadas por um governo fraco, cujo objetivo principal é se manter no poder”.
Brasil, ilha de honestidade
Os depoimentos de João Santana, marqueteiro de Lula, Dilma e Fernando Haddad, e de sua esposa Mônica, administradora de seus negócios, revelaram uma característica do Brasil que muitos brasileiros não conheciam: é um dos países do mundo em que a ética nos negócios é mais respeitada.
Mônica Moura explicou que muitos dos pagamentos ao marido foram feitos desburocratizadamente, sem essas firulas chatas e caras de recolher impostos; em suma, pelo caixa 2. Isso aconteceu na Venezuela, em Angola, em boa parte dos países em que João Santana trabalhou. Nesses países, aliás, quem fez os pagamentos não contabilizados, segundo os depoimentos, foi uma empresa brasileira com braços internacionais, a Odebrecht.
Mas no Brasil, pátria de Santana, de Mônica Moura e da própria Odebrecht, isso não aconteceu: no Brasil, ambos explicaram minuciosamente, foi tudo pago por dentro, limpinho, descontados todos os impostos, taxas, contribuições, com escrituração completa e precisa, preparada com todo o cuidado para não violar nenhuma lei. Porque o Brasil não é corrupto como esses outros países.
O Brasil é um oásis de honestidade num mundo de corrupção.
Brasil, oásis de ética
Apareceu também uma conta na Suíça com saldo de US$ 7,5 milhões. João Santana confirmou a existência da conta, mas garantiu que não sabia qual a origem do dinheiro nela depositado. Acontece: o caro leitor já não teve ocasiões em que esqueceu onde tinha guardado a chave de casa?
Então, o marqueteiro do PT também teve uma falha de memória, e não se lembrava de algumas coisas. Mas, se havia algo errado, podemos ter a certeza de que dinheiro do Brasil não era.
Pegando fogo 1
O Supremo deve decidir na quarta-feira se aceita a denúncia do Ministério Público contra o Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, suspeito de receber irregularmente US$ 5 milhões. Confusão (jurídica) previsível: Cunha já disse que, mesmo tornado réu, não deixará a presidência da Casa. Sua alegação: e se for absolvido? Mas ser presidida por um réu será desconfortável para a Câmara, apesar de a Câmara ser o que é. Cunha também deve ser julgado pelo Conselho de Ética da Câmara, por quebra do decoro parlamentar.
Quando? Um dia desses. Há quatro meses ele manobra, com êxito, para adiar o julgamento.
Pegando fogo 2
Na mesma quarta, Cunha põe em votação um projeto que custará, se aprovado, algo como R$ 207 bilhões até 2022: o aumento da despesa mínima com saúde, de 15% da receita, para 19,4%. A proposta é do início do ano passado e estava adormecida.
Mas, como Cunha se irritou com o Governo, que interferiu pesado na eleição do líder da sua bancada e o derrotou, trouxe o projeto de volta.
Pegando fogo 3
Clima vigente em determinadas áreas políticas: o filósofo Emir Sader postou o twitter “@emirsader Esse juizinho fascitoide precisa saber que qualquer provocação pra cima do Lula vai ter resposta duríssima pra cima dele.”
Pegando fogo 4
Números oficiais, da Secretaria do Tesouro Nacional: a dívida pública federal atingiu R$ 2,749 trilhões em janeiro. É o que pagamos, com os juros fixados pelo Banco Central. A dívida cresceu 22% em relação ao mesmo período de 2015.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.