Entre depoimentos bombásticos de delatores e acusados que negam participação no maior esquema de corrupção da História, a Operação Lava-Jato tem nas coxias atores coadjuvantes que bambeiam entre a o falso arrependimento e a desfaçatez desmedida.
Condenado a quinze anos e dez meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa nas obras da refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, Eduardo Hermelino Leite é o que se pode chamar de dissimulado por conveniência. Em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato na primeira instância, Eduardo Leite, conhecido no submundo da corrupção como “Leitoso”, chegou às lágrimas ao falar das filhas e disse que sua prisão fez mal à imagem da família.
Ao juiz Moro o ex-executivo relatou que quando assumiu a vice-presidência da Camargo Corrêa, em 2011, foi cooptado por um esquema de corrupção já em funcionamento na empreiteira e que jamais imaginou cometer um crime. Contudo, mesmo assim continuou na empresa e aderiu à operação bandoleira.
Mesmo não se vendo como partícipe de um crime, Eduardo Leite foi condenado, juntamente com Dalton dos Santos Avancini (ex-presidente da Camargo Corrêa) por 38 crimes de lavagem de dinheiro, identificados nos repasses, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos provenientes dos contratos da Camargo Corrêa na RNEST (Abreu e Lima) e REPAR (Getúlio Vargas, no Paraná), através de operações simuladas com as empresas Sanko Sider, MO Consultoria, Empreiteira Rigidez, GDF Investimentos e Costa Global.
Ao proferir a sentença condenatória do ex-vice-presidente da empreiteira, o juiz Sérgio Moro destacou: “A pena privativa de liberdade de Eduardo Hermelino Leite fica limitada ao período já servido em prisão cautelar, com recolhimento no cárcere da Polícia Federal, de 14/11/2014 a 24/03/2015, devendo cumprir cerca de um ano de prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica, até 14/03/2015. Deverá cumprir de dois a seis anos contados de 14/03/2016, desta feita de prisão com recolhimento domiciliar nos finais de semana e durante a noite, com tornozeleira eletrônica se necessário, naquilo que o acordo denominou de regime semi-aberto diferenciado. Durante o recolhimento no período semi-aberto, deverá ainda o condenado cumprir cinco horas semanais de serviços comunitários, em entidade pública ou beneficente, a ser definida oportunamente. A partir de 14/03/2018, poderá o condenado progredir para o regime aberto pelo restante da pena a cumprir, segundo seu mérito, ficando no caso desobrigado do recolhimento domiciliar e em condições a serem oportunamente definidas.”
Pois bem, sentenças e tornezeleiras à parte, a fala de Eduardo Leite sobre os danos à imagem da família caiu por terra na última semana. Casada com o ex-vice-presidente da Camargo Corrêa, com quem tem duas filhas, Mylene Quian Leite, brasileira de origem cubana, parece não saber dos crimes cometidos pelo marido ou, então, aposta na dissimulação como forma de seguir adiante nos caminhos tortuosos da vida.
Há dias, no perfil que mantém no Facebook, Mylene Leite, a senhora “Leitoso”, publicou um imagem alusiva às passeatas que ocorreram no domingo (13) em várias cidades brasileiras e levaram às ruas milhões de indignados com a onda de corrupção que varre o País, movimento criminoso do qual participou o marido, embalado pela volúpia sem fim dos donos do poder. Na postagem há uma imagem com a seguinte frase: “O meu partido é o meu país”. Para quem não conhece a história de “Leitoso” ou a relação conjugal da dona do perfil com o condenado na Lava-Jato, a publicação chega a convencer.
Mas o show de incoerência não parou por aí. Mylene Leite postou também, em seu perfil do Facebook, um mapa da Avenida Paulista com os locais onde estariam estacionados os caminhões dos movimentos organizadores do protesto que sacudiu as estruturas do Palácio do Planalto.
Esse repentino viés patriótico de Mylene Quian Leite pode até ser um “ensaio da cegueira”, mas quem conheceu seu closet, recheado de roupas e acessórios importados caríssimos e de marcas conhecidas (há vários sapatos e sandálias da marca Jimmy Choo, a pelo menos US$ 1 mil cada) ainda não se convenceu diante da inesperada lufada de patriotismo que sopra nos domínios da senhora “Leitoso”. Enfim…